sábado, 1 de novembro de 2025

[Novel] Dinghai Fusheng Lu - Capítulo 072

 


Capítulo 72 - Interrogatório



No quarto do Palácio Taichu, Chen Xing continuava visivelmente irritado, encarando o artefato mágico à sua frente, completamente absorto em seus pensamentos.


Sobre a mesa estava estendido um pano macio, e sobre ele repousava a Pérola Dinghai, que haviam obtido às margens do Lago Hong. Em seu interior, um brilho fraco e sinuoso com forma de dragão girava lentamente. Quando nenhuma magia era canalizada para ela, a Pérola Dinghai mantinha uma cor azulada, porém, ao tentar infundir a magia da Lâmpada do Coração, a Pérola Dinghai transformava-se, adquirindo um tom dourado.


Após retornarem de Chibi, Xiang Shu seguiu o conselho de Xie An e trouxe Chen Xing para residir no palácio, sem outro motivo senão o fato de que este era o momento mais crucial. No presente momento, em todo o mundo, o local mais seguro deveria ser o Palácio Taichu, em Jiankang. Se nem mesmo o poder total do reino de Sima Yao pudesse proteger esse artefato, então o Retorno de Toda a Magia estaria ainda mais distante de ser alcançado.


Felizmente, desde que Shi Hai possuiu Gu Qing e, após cavalgar o jiao demoníaco para dentro do Rio Yangtze, não houve mais nenhum sinal dele. Aparentemente, a curto prazo, parecia que ele não tinha mais planos de recuperar a Pérola Dinghai.


O Espelho Yin-Yang, o Tambor Zheng, o Sino Luohun, os Anéis de Selo das Quatro Cores e até mesmo a Lâmina Acala – todos os cinco artefatos foram colocados sobre a mesa. Chen Xing tentou ativá-los um por um usando a Pérola Dinghai, mas não obteve nenhum efeito.


Naquela noite, em seu primeiro combate contra Shi Hai, Xie An — que, de todo o coração, queria ser um bom exorcista — tinha, felizmente, levado consigo um poderoso sonífero concentrado, com o objetivo de não atrapalhar Chen Xing e os outros. Mal sabia ele que, logo no primeiro encontro com seu inimigo, ele acabaria por encarar o líder supremo inimigo, Shi Hai, abrindo assim um espaço para si na história.


Chen Xing mergulhou em seus pensamentos, revivendo mais uma vez os eventos do dia em que Huan Mo desmoronou.


“A Pérola Dinghai… Ah, eu a procurei por trezentos longos anos. Trezentos anos.”


Com base nisso, aquela Pérola Dinghai que estava em suas mãos era, sem dúvida, o objeto que eles tanto procuravam. Nas memórias de Xiang Yuyan, quando Zhang Liu invocou a Pérola Dinghai, ela brilhava intensamente, e embora não pudessem ver sua forma claramente, Shi Hai certamente a tinha visto antes.


Mas por que ele teria escondido a Pérola Dinghai naquela pequena ilha? Chen Xing continuava sentindo que havia algo suspeito nisso.


Nesse momento, Xiang Shu finalmente chegou. Sentou-se diante da mesa sem dizer uma palavra. Cruzou as pernas, apoiou as mãos sobre os joelhos e perguntou, com voz grave: “E então?”


Por algum motivo, toda vez que Xiang Shu aparecia, a frustração e as emoções confusas no coração de Chen Xing se acalmavam com facilidade.


“Onde estão Xiao Shan e os outros?” Chen Xing perguntou.


“Feng Qianjun, Xie Daoyun e Xiao Shan foram procurar Gu Qing”, respondeu Xiang Shu. “Enquanto você dormia profundamente, Xiao Shan queria esperar você acordar, mas eu disse que não era necessário.”


E assim, o Departamento de Exorcismo dividiu-se para cumprir suas respectivas tarefas. Xiao Shan e Feng Qianjun foram investigar o que aconteceu com aquele jiao demoníaco, deixando para trás Xie An, Chen Xing e Xiang Shu para vigiar. Pela lógica, Chen Xing deveria ter ido com eles; como poderia simplesmente abandonar Gu Qing? No entanto, o que ele precisava focar imediatamente era em como quebrar o Silêncio da Magia.


Xie An também chegou e sentou-se à mesa e ficou observando a Pérola Dinghai.


Chen Xing disse: “Finalmente encontramos o que sempre procuramos. Agora, só preciso pensar em uma maneira de liberar o qi espiritual armazenada dentro dela. Quando isso acontecer, o Céu e a Terra voltarão a ser como eram antes.”


“Você tem certeza de que é isso?” Xiang Shu não perguntou mais nada, levantando a mesma questão que Chen Xing tinha. Ele esticou um dedo longo e esguio e deu um leve toque naquela pérola, fazendo-a girar sobre a mesa, rolando de um lado para o outro.


Chen Xing: “Tenho certeza…”


Ao dizer isso, ele usou o dedo para suavemente parar o artefato, antes de erguer os olhos para encarar Xiang Shu, continuando: “... talvez?”


Desta vez, Chen Xing não permaneceu em coma por três meses inteiros como antes. Ao cair na água, ele sentiu claramente a pérola liberar uma poderosa energia espiritual, sustentando vigorosamente o funcionamento da Lâmpada do Coração. Por isso, desta vez ele dormiu apenas um dia antes de acordar. Se não era a Pérola Dinghai – que continha todo o qi espiritual do Céu e da Terra – o que mais poderia ser?


Xie An disse: “Eu me lembro claramente, Deus Marcial. Naquela ocasião, Shi Hai disse: ‘Xie Anshi, preciso agradecer a todos por me ajudarem a desbloquear a Torre Suoling* e recuperar…’ O restante foi a segunda parte que todos ouviram, hm.”


(n/t: *锁灵塔 (Suǒ Líng Tǎ) literalmente Torre da Prisão Espiritual)


Chen Xing: “Sim, agora que você diz, foi exatamente assim, sem dúvida.”


Xiang Shu, de braços cruzados, permanecia imerso em seus pensamentos, antes de perguntar: “Xie An, como está aquele Rei Demônio da Seca?”


“Detido na prisão”, disse Xie An. “Sob vigilância rigorosa, os guardas estão constantemente vigilantes contra qualquer sinal de fuga. Sua Majestade ordenou que, quando você for interrogar o prisioneiro, ele esteja presente como observador.”


Xiang Shu disse: “Então, que seja esta noite.”


Xie An acenou com a cabeça, levantou-se e se despediu, deixando Chen Xing e Xiang Shu sentados em lados opostos de uma mesma mesa. Chen Xing usou a ponta do dedo para brincar com a Pérola Dinghai e, com um leve empurrão, ela rolou pelo meio da fileira de artefatos, direto para a frente de Xiang Shu.


O olhar de Xiang Shu nunca havia deixado o rosto de Chen Xing. Com um movimento suave dos dedos, ele fez a pérola rolar de volta, parando diante de Chen Xing. Os dois então ficaram rebatendo a pérola um para o outro várias vezes, como duas crianças brincando.


“Você… parece estar de bom humor hoje”, comentou Chen Xing, observando a expressão de Xiang Shu.


Xiang Shu ergueu uma sobrancelha e perguntou: “Você quer quebrá-la?”


“Antes de mais nada, no instante em que se quebrar, a liberação da energia espiritual provavelmente arrasaria toda Jiankang num piscar de olhos”, disse Chen Xing. “Suponha que encontremos um lugar deserto num raio de cem li para tentar, o que usaríamos para quebrá-la?”


Xiang Shu sugeriu: “Lâmina Acala?”


Chen Xing pensou profundamente e disse, com alguma hesitação: “A arma divina de Acalanatha contra uma pérola de dragão que existe desde a separação do Céu e da Terra… quais são as chances de vitória?”


“Cangqiong Yilie?” Xiang Shu perguntou. “Senluo Wanxiang?”


Chen Xing explicou: “Cangqiong Yilie foi forjada a partir de uma das garras de dragão de Zhuyin. Comparada com o neidan de um dragão que foi lentamente coagulado ao longo do tempo, está claramente um nível abaixo. Já o Senluo Wanxiang tem o poder da madeira verde adormecido nela, e a lenda diz que foi criada pelo Deus da Madeira, Ju Mang¹. Mas, comparada ao dragão divino que criou o mundo… também não é o suficiente.”


Xiang Shu abriu ligeiramente as mãos e disse: “Estamos a apenas um passo do sucesso.”


“Este artefato não está registrado em nenhum texto histórico”, disse Chen Xing, após refletir por um longo momento. “A abordagem mais adequada seria encontrar a técnica que Zhang Liu usou para absorver o qi espiritual do Céu e da Terra, e então reverter todo o processo do feitiço, liberando a magia para fora.”


Xiang Shu comentou: “Lembro-me de que, à beira do lago, você esteve muito perto de conseguir.”


Chen Xing respondeu: “Naquela hora, eu quase me explodi no processo. O mais estranho é que isso só aconteceu uma única vez. Está vendo? Agora, não consigo mais provocar nenhuma reação.”


Chen Xing tentou injetar magia na Pérola Dinghai, assim como da vez em que havia lançado magia no Canglangyu* do Lago Hong. No entanto, a Lâmpada do Coração simplesmente atravessou o corpo da pérola e projetou sua luz, sem nenhuma maneira de ativá-la novamente.


(n/t: *沧浪宇 (Cāng làng yǔ) traduz lit. para Casa da Água Azul)


Xiang Shu franziu a testa. “Como você está se sentindo agora?”


Chen Xing disse: “Está tudo bem, essa pequena quantidade de energia consumida não é nada.”


“O que podemos fazer?" Chen Xing pensou em centenas de coisas, mas nenhuma resolvia o problema, e a dor de cabeça começou a voltar. Os dois passaram a tarde inteira sentados ali, encarando a Pérola Dinghai. Só ao anoitecer, após o jantar, Xiang Shu guardou a pérola e a colocou próximo ao corpo, dizendo: “Vou ficar com ela por enquanto. Sempre que precisar, venha me procurar para pegá-la.”


“Por que você está tão nervoso?" Chen Xing sorriu, mas Xiang Shu já havia saído, assobiando enquanto se afastava.


Este problema difícil ainda não tinha solução, mas o humor de Chen Xing já começava a melhorar; pelo menos eles já estavam muito perto de alcançar o objetivo final de sua jornada.


“Espere!” Chen Xing chamou. “Onde você está indo?” Ao dizer isso, levantou-se e seguiu Xiang Shu. Lembrou-se de que nesta noite iriam interrogar Sima Wei, e não pôde evitar que uma inquietação crescesse dentro dele. Os ancestrais do Clã Sima da dinastia Jin haviam retornado à vida e se transformado em cães de ataque de Shi Hai; isso não era algo trivial, e Sima Yao selou toda e qualquer notícia sobre o assunto. Desde o momento em que os exorcistas trouxeram o corpo quebrado de Sima Wei das margens do Lago Hong, ele estava confinado na prisão subterrânea.


Enquanto o crepúsculo se aprofundava, um amplo espaço foi liberado dentro do palácio. O salão estava repleto de um pesado contingente de guardas de vigia, que estavam em alerta máximo contra quaisquer corvos que pudessem estar realizando vigilância. Chen Xing e Xiang Shu ocuparam seus lugares, e Sima Yao se escondeu atrás de um biombo. Xie An pessoalmente trouxe os guardas que escoltaram Sima Wei para dentro do salão.


Este era o último rei, dos seis que Shi Hai havia reanimado. O corpo de Sima Wei estava completamente quebrado e maltratado, contido por correntes de metal. Seus cabelos pendiam soltos e selvagens, a pele de seu rosto tinha o tom cinza-azulado escuro de um cadáver, e um grilhão de ferro envolvia seu corpo.


Xie An explicou: “Originalmente, pensei em fundi-lo em ferro derretido, mas não sabemos como os demônios da seca mantêm-se vivos, então este foi o método temporário que usamos para contê-lo.”


Chen Xing respondeu: “É o suficiente; contanto que ele não possa se mover, está funcionando. Assim que ele se livrar do ressentimento de Shi Hai, suas habilidades serão contidas.”


Quando os vários Reis Demônios da Seca apareciam, eles carregavam ressentimento em seus corpos, e quanto mais forte o ressentimento, mais forte era o poder do Rei Demônio da Seca. Isso era um pouco parecido com a forma como o poder de Xiang Shu também era afetado pela Lâmpada do Coração.


Chen Xing observou Sima Wei atentamente. Sima Wei levantou lentamente a cabeça e fixou Chen Xing com seus olhos turvos e vazios.


Mas nenhuma palavra como “Salve-me” saiu de seus lábios.


“Reconhece isto?” Xiang Shu foi o primeiro a quebrar o silêncio, segurando a Pérola Dinghai.


Sima Wei virou a cabeça para olhar e, após observar, respondeu: “Não sei o que é isto.”


Chen Xing disse: “Naquele dia em Pyongyang, você ainda se lembra das palavras que disse?”


“Que palavras?” Sima Wei perguntou. “Vocês vão me salvar?”


Xie An disse: “Isso dependerá da sua colaboração. Nascido como um antigo soberano de nossa Grande Dinastia Jin, como um espírito corajoso dos ancestrais falecidos, você não pensou em proteger seus descendentes, mas agiu como um chacal ao lado do tigre² e os massacrou. Quando chegar ao mundo inferior³, com que face vai encarar o Imperador Wu da minha Grande Jin?!”


Os cantos da boca de Sima Wei se curvaram levemente para baixo, como se sentisse um desdém tão grande por aquilo que nem valia a pena um segundo olhar. Chen Xing franziu a testa e observou Sima Wei, apenas para ver que seus traços⁴ eram bem definidos e seu porte era heróico. Mesmo que não tivesse havido grandes mudanças após sua morte, durante a Guerra dos Oito Príncipes, Sima Wei morreu com apenas vinte anos e, após estar morto por quase cem anos, ele ainda não havia encontrado paz. Por isso, Chen Xing não pôde evitar  sentir um pouco de simpatia por ele.


Sima Yao observou Sima Wei por trás do biombo. Naquele instante, sua expressão mudou, e ele prendeu a respiração, sem ousar falar.


“Por que Shi Hai veio para Jiangnan?” Chen Xing perguntou com seriedade. “Sima Wei, esta é sua última chance. Garanto que, não importa o que você diga, Shi Hai nunca saberá."


Sima Wei inclinou suavemente a cabeça, observando Chen Xing, e disse: “Exorcista, primeiro precisamos estabelecer os termos, não é? O que você pode fazer por mim? Se eu não cooperar, então estão pensando em me matar? Mas eu já estou morto.”


Xiang Shu disse: “Também posso matá-lo mais uma vez, exatamente como matei seus vários irmãos.”


Atrás do biombo, Sima Yao gesticulou para Xie An, formando as palavras silenciosas: “Sem dúvida.”


Xie An pareceu um tanto constrangido e não respondeu.


Sima Wei disse: “Então venham. Quando minha alma retornar ao Céu e à Terra, isso também pode ser considerado uma forma de libertação. Eu já não me lembro quem sou.”


“O que você quer?” Chen Xing franziu a testa.


“Me liberte”, disse Sima Wei. “Quebre o controle que Shi Hai tem sobre mim, e me deixe ir.”


Xie An disse: “Para onde você quer ir?”


“Eu não sei”, Sima Wei balançou a cabeça levemente e respondeu. “A terra é vasta, o céu é alto e distante, e depois de ter recebido uma segunda vida de Shi Hai, eu só quero ir ver esta terra. Eu não sou a pessoa que vocês pensam, mesmo que…”


E dizendo isso, Sima Wei levantou a mão, arrastando as correntes de aço, e apontou a própria cabeça lentamente, antes de responder: “Eu me lembro do dono deste corpo e de muitas de suas memórias. Mas já posso sentir que sou apenas eu mesmo. Embora tenha sido despertado novamente por Shi Hai, para ser mais preciso, sou um ser criado.”


Essas palavras caíram como uma bomba, pegando todos de surpresa. Chen Xing sentiu vagamente que, todo esse tempo, havia julgado mal Sima Wei. O que exatamente era esse sujeito? A impressão que tinham dele, a única identidade que lhe atribuíam, era a de alguém que já estava morto, e ele jamais esperou que Sima Wei não fosse, na verdade, Sima Wei. Então, o que ele era?


Chen Xing ergueu uma mão, indicando que todos aguardassem um momento, antes de perguntar: “Então, você está usando o corpo de Sima Wei, e possui parte das memórias que um dia foram ele, mas sua natureza é a de um ‘demônio da seca’ criado por Shi Hai. É isso?”


“Foram você e Chiyou que me criaram. Shi Hai foi apenas o auxiliar de Chiyou”, disse Sima Wei. “Naquele dia, na Montanha Longzhong, você usou a Lâmpada do Coração.  Foi nesse momento que o poder da Lâmpada do Coração, junto com o poder do Deus Demônio, funcionaram em conjunto, como yin e yang. Essas duas forças mutuamente exclusivas influenciaram meu despertar.”


Ele levantou a mão novamente, um dedo quebrado apontando para seu próprio peito, e disse: “Aqui dentro, há uma semente da Lâmpada do Coração. Shi Hai ainda não a encontrou.”


Após aquela batalha em Goguryeo, Chen Xing finalmente recebeu a resposta. Ele mal podia acreditar que a lucidez de Sima Wei estaria tão além de suas expectativas. Sem saber como responder, ele olhou involuntariamente para Xiang Shu que perguntou: “Se você não deseja servir Shi Hai, então por que age em conjunto com ele?”


“Não consigo me libertar”, disse Sima Wei. “Meu corpo muitas vezes não está sob meu controle, mas sim sendo movido pelo ressentimento. Quando preparei a emboscada contra vocês, foi como um instinto involuntário, o que não me deu escolha. A Lâmpada do Coração é muito fraca, mas ficava incessantemente me despertando.”


Xie An perguntou: “Shi Hai viajou de tão longe, então que objetivo ele tem em mente?”


Sima Wei respondeu: “Inicialmente, ele queria capturar Chen Xing e refinar a Lâmpada do Coração dentro dele para usá-la como receptáculo do Deus Demônio Chiyou. Dessa forma, uma nova Lâmpada do Coração poderia plantar sementes de obsessão nos corações de todos os seres da Terra Divina, forçando toda a vida a se submeter a ele.”


Chen Xing se lembrou vagamente de ter ouvido algo assim perto das Veias da Terra naquele dia. Cruzando as informações, tudo começou a fazer sentido. Ele perguntou: “Então, por que ele me deixou de lado, por enquanto?”


Sima Wei explicou: “Ele encontrou um artefato mais adequado: a Pérola Dinghai. Seu plano agora é usá-la para reconstruir o corpo de Chiyou. A Pérola Dinghai não só contém o qi espiritual do Céu e da Terra, mas também é o neidan do Deus Dragão, capaz de controlar a causalidade. É mais adequado para esse propósito do que a Lâmpada do Coração.”


“O que ele planeja fazer depois de obter a Pérola Dinghai?” Xiang Shu continuou a perguntar.


“Retornar à Batalha de Banquan e reverter seu destino de derrota nas mãos do Clã Xuanyuan⁵”, respondeu Sima Wei.


Chen Xing fez mais algumas perguntas a Sima Wei, mas o conhecimento dele era limitado — havia muitas coisas que Shi Hai não lhe contaria. Ele só sabia o que sabia porque escutou Shi Hai e aquele coração demoníaco no Palácio Huanmo discutindo as coisas e se lembrou de alguns pontos daquela conversa. Ainda assim, a colheita de informações foi significativa. Chen Xing descobriu que o coração demoníaco estava escondido dentro do Palácio Huanmo, e que o Palácio Huanmo estava localizado em uma área específica: a interseção das veias terrestres.


Sima Wei, no entanto, não sabia a localização exata, pois toda vez que Shi Hai levava os Reis Demônios da Seca para dentro do palácio, eles eram teletransportados pelas veias terrestres. Portanto, se tivessem capturado Chen Xing, ele também teria sido levado ao Palácio Huanmo por esse mesmo meio.


Quanto a mais detalhes, eles não conseguiram obter nada de específico ao perguntá-lo, mas Xiang Shu ainda o interrogou pacientemente sobre muitos detalhes. As respostas que receberam coincidiram em grande parte com as suposições que haviam feito ao longo da jornada até ali. Por fim, ele perguntou: “Que habilidades Shi Hai realmente possui?”


Sima Wei disse: “Seus três hun e sete po já conseguem se mover independentemente de seu corpo.”


“Isso é impossível”, disse Chen Xing. “Não importa quão forte seja um yaoguai, ele não pode fazer isso. Você acha que as veias do Céu e da Terra estão ali apenas para enfeite? Os únicos seres neste mundo que podem existir sem forma física são os demônios.”


Sima Wei respondeu: “O poder de sua alma é anormalmente forte, e a qualquer momento ele pode trocar de corpo e devolver almas. Até mesmo humanos com força espiritual mais fraca podem ser possuídos e controlados por ele. Wang Ziye era apenas um corpo com o qual ele estava mais satisfeito, e a Lâmpada do Coração continua sendo sua única fraqueza.”


“O que exatamente era aquele sujeito?” Chen Xing sentiu vagamente que o poder de Wang Ziye talvez não devesse ser subestimado. Naquele dia, quando cruzaram espadas no Lago Hong, a névoa preta na qual Wang Ziye se transformou após se desfazer daquele corpo do estudioso havia sido suprimida por ele, Chen Xing. Mas quanto aos outros, aquele sujeito não tinha medo de lâminas ou lanças, e eles basicamente não conseguiriam vencê-lo.


Chen Xing pensava nisso, mas disse em voz alta: “Essa ação de as almas deixarem o corpo e vagarem pode parecer livre e despreocupada, mas é, na verdade, extremamente perigosa. Mesmo sem a Lâmpada do Coração, se eu usasse apenas o Sino Luohun, eu poderia selar dois de seus hun. E se houvesse qualquer tipo de explosão de magia, isso destruiria diretamente seus três hun e sete po. Sima Wei, você realmente não deveria ter medo dele.”


Vendo que não era possível obter mais informações, Xie An olhou suplicante para Chen Xing.


“Uma última pergunta”, disse Xiang Shu. “Por que ele quer ressuscitar Chiyou?”


“Não sei”, respondeu Sima Wei.


Essa questão era uma que Chen Xing já havia discutido várias vezes com Xiang Shu. A origem de Shi Hai era desconhecida, mas ele deve ter “vivido” nesta terra de forma tão única por várias centenas de anos, ou talvez mais. Para esse tipo de grande yaoguai que sobreviveu através do Silêncio da Magia, ter alguma ambição também era muito normal. Apenas considerar a ideia de reviver Chiyou sugeria que, sozinho, Shi Hai talvez sentisse que suas próprias habilidades eram limitadas e não tinha como conquistar a Terra Divina sozinho.


E, apesar de conhecer suas próprias limitações tão bem quanto as do inimigo, com a motivação de lutar cem batalhas sem ser derrotado, Xiang Shu ainda assim não estava disposto a desistir, perguntou novamente e, como sempre, não obteve resposta.


Sima Yao observava Xie An com expectativa por trás do biombo. Xie An ponderou para um lado e para o outro antes de dizer: “Por esta noite, por que não…”


“Tranquem-no”, Xiang Shu não esperou Chen Xing falar, preferindo dar a ordem primeiro. Era também o que Chen Xing queria dizer. “Esperem até lidarmos com Shi Hai para decidir o que fazer com ele.”


Sima Yao franziu a testa profundamente ao ouvir isso. Os guardas que aguardavam levaram Sima Wei para fora. Xiang Shu apenas acenou com a cabeça educadamente para Sima Yao antes de estender a mão para Chen Xing e levá-lo embora.


“Você ofendeu Sima Yao”, sussurrou Chen Xing.


“Já eliminei cinco dos ancestrais dele. Então por que este Guwang deveria se importar com ele?” Xiang Shu voltou para seu quarto e começou a organizar as informações do interrogatório de hoje. Ele pensou profundamente por um momento, antes de pegar o pincel e escrever, com as sobrancelhas franzidas enquanto começava a analisar.


Chen Xing conseguia ver que Xiang Shu estava realmente de bom humor hoje.


“Olhe para a sua Pérola Dinghai”, Xiang Shu disse. “Por que está aí sonhando acordado?”


“O ponto é que não consigo ver nada nela!” Chen Xing respondeu, colocando uma mão na testa.


“Se está com sono, vá dormir”, disse Xiang Shu.


Após entrarem no palácio, Sima Yao providenciou um quarto para os dois, a pedido de Xiang Shu. Além de proteger a Pérola Dinghai, ele também precisava proteger Chen Xing para evitar qualquer outro imprevisto. Assim, o pessoal do palácio montou biombos para criar dois ambientes: um interno e outro externo, Xiang Shu dormia numa cama na parte externa, enquanto Chen Xing dormia na cama macia do lado interno.


Lá fora, uma chuva leve começou a cair, trazendo consigo uma lufada de ar frio.


“É por minha causa?” Chen Xing perguntou, deitado em sua cama macia.


Xiang Shu também se deitou, segurando um pedaço de papel na boca e um mapa na mão para estudá-lo atrás do biombo e, ao ouvir aquilo, disse, confuso: “O quê?”


Do outro lado, Chen Xing virou a cabeça e ficou observando a silhueta de Xiang Shu projetada no biombo — deitado com as pernas para o alto, uma cruzada sobre a outra.


Chen Xing: “Xiang Shu, é porque você encontrou a Pérola de Dinghai que acha que estou seguro agora? É por isso que você está de tão bom humor hoje?”


Xiang Shu não respondeu. Ele casualmente juntou várias folhas de papel, apagou a lâmpada com um movimento dos dedos e a luz da lua brilhou sobre o chão.


“Shulü Kong”, chamou Chen Xing.


Xiang Shu não respondeu, levantando-se para sentar no sofá baixo. Sua mão alcançou o que estava debaixo do travesseiro.


“Neste mundo, você é a pessoa que mais se importa comigo”, comentou Chen Xing, com um tom de melancolia.


Xiang Shu permaneceu em silêncio, com uma mão enfiada debaixo do travesseiro, como se estivesse hesitando. Chen Xing insistiu: “Mas eu não quero que você faça isso, porque tem medo que eu possa estar em perigo…”


“Cale a boca”, Xiang Shu finalmente falou, retirando a mão esquerda debaixo do travesseiro.


Chen Xing: “Xiang Shu, eu realmente acho que precisamos conversar…”


Xiang Shu levantou-se, vestindo apenas uma roupa simples e calção, saiu do quarto. Chen Xing sentou-se e perguntou: “Aonde você vai?”


“Tomar um ar”, respondeu Xiang Shu. “Não me siga, ou eu vou bater em você.”


Chen Xing não teve escolha a não ser se deitar. Ao ouvir o som da porta se abrindo e Xiang Shu se afastando, Chen Xing estava prestes a inventar uma desculpa para chamá-lo de volta “dizendo que alguém viria capturá-lo em breve”, mas Xiang Shu não foi muito longe. As notas intermitentes de uma flauta Qiang flutuavam no ar, claramente sendo tocadas no pátio.


A água pingava dos beirais.


Era final de outono, e a chuva gotejava sobre os restos das flores de lótus que enchiam o pátio. Em um instante, o clima esfriou, e a melodia antiga da flauta Qiang trazia consigo um leve toque de desolação. Naquela noite, um frio repentino varreu as terras do sul. Chen Xing não sabia o nome da peça e, enquanto a escutava, lentamente adormeceu. Xiang Shu observou a chuva por um longo tempo. Foi apenas na segunda metade da noite que ele entrou para dormir, mas ouviu Chen Xing se mexendo inquieto sob a colcha. Ele se aproximou para dar uma olhada e o encontrou enrolado como uma bola, claramente com frio.


Diante disso, Xiang Shu deitou-se na cama macia para dormir. Em seus sonhos, Chen Xing sentiu o calor e se aproximou, como um animal em busca de calor, inconscientemente se aninhando no espaço diante de seus ombros enquanto dormia profundamente.


◈ ◈ ◈


Jiankang estava prestes a entrar no inverno. No mês que se seguiu, por mais que tentasse, Chen Xing não conseguiu encontrar uma maneira de liberar o qi espiritual dentro da Pérola Dinghai. Desde que retornaram do Lago Hong, o artefato permanecia inativo. A cada cinco dias, Feng Qianjun, Xie Daoyun e Xiao Shan enviavam mensagens através de estações de correio de várias regiões de Jiangnan, relatando os problemas relacionados à água em cada localidade.


“O jiao demoníaco certamente ainda não deixou o sul”, disse Chen Xing após ler outra carta. “Shi Hai e ele estão escondidos em algum lugar. O que ele planeja fazer?”


De acordo com o relatório de Xie An, o sul já havia mobilizado a maior quantidade possível de mão de obra e recursos para montar uma rede da qual não havia escapatória. Embora os navios não pudessem cobrir todas as vias navegáveis, monitorar as embocaduras dos rios não era um problema difícil. Se o jiao demoníaco usasse qualquer rota aquática para fugir em direção a Luoyang, ele certamente seria detectado.


Enquanto isso, a rede de busca lançada por Feng Qianjun e os outros continuava a se fechar, convergindo para Jiankang.


“A Pérola Dinghai”, disse Xiang Shu. “Shi Hai não desistirá tão facilmente. Ele está apenas esperando uma oportunidade e não vai parar até ter roubado a Pérola Dinghai.”


Xiang Shu levou Chen Xing mais uma vez ao Monte Nanping, na esperança de que pudessem ativar novamente a Pérola Dinghai no Altar das Sete Estrelas, mas, como sempre, eles ficaram sem saber o que fazer.


E com o passar do tempo, Xiang Shu ficou cada vez mais frustrado. Quando voltaram para a ilha no meio do Lago Hong, Chen Xing imitou a situação de antes e tentou novamente usar a Pérola Dinghai, mas, como de costume, nada funcionou.


“Coloque-a ali”, disse Xiang Shu.


Chen Xing colocou a Pérola Dinghai sobre a rocha.


“Concentre-se”, Xiang Shu instruiu, erguendo então a Lâmina Acala e avaliando seu peso.


Os dois finalmente haviam chegado à decisão de tentar usar a Lâmina Acala para destruir a Pérola Dinghai. Naquele momento, o corpo inteiro de Chen Xing emitiu o brilho da Lâmpada do Coração, e, por trás, ele abraçou Xiang Shu. A Lâmina Acala na mão de Xiang Shu desceu, acompanhada por um grito estrondoso!


Com um clang, a Pérola Dinghai afundou, estilhaçando a rocha, mas deixando o artefato mágico intacto.


“Não funcionou”, disse Chen Xing, cabisbaixo.


Xiang Shu pousou a espada e observou Chen Xing atentamente. Chen Xing estava um pouco ofegante, então Xiang Shu disse: “Descanse um pouco”. Ele então pegou um pouco de água e a deu a Chen Xing para beber.


“Por que isso é tão difícil?!” Chen Xing disse. “Claramente já está em nossas mãos! Isto nem parece o qi espiritual dos Céus e da Terra! Será que ele reconhece o dono? Mas, então, como fui capaz de usá-la naquele dia?”


Xiang Shu observou a aparência de Chen Xing antes de sorrir de repente, e a irritação de Chen Xing desapareceu.


“Eu realmente quero jogar essa coisa fora”, disse Xiang Shu casualmente, antes de pegar a Pérola Dinghai de volta, curvando o corpo ao dar um passo antes de se endireitar, levantar o braço e jogá-la diretamente no Lago Hong.


"Não!" Chen Xing ficou horrorizado, apenas para ver um pequeno respingo seguido de um som de putong vindo do lago.


“AAAAAHH!” Chen Xing enlouqueceu, agarrando Xiang Shu e o sacudindo com força. Xiang Shu simplesmente caiu na gargalhada. Chen Xing rugiu: Você ainda está rindo! Do que está rindo?!”


“Vamos”, disse Xiang Shu, sua risada dando lugar a um tom sério.


“Para onde?!” Chen Xing perguntou, incrédulo, à beira das lágrimas. “Dá para recuperá-la? Ela era nossa única esperança!”


“Para Chi Le Chuan”, respondeu Xiang Shu. “Para o Lago Barkol. Conheço um caminho. Se o seguirmos, deixaremos as Planícies Centrais.”


E dizendo isso, ele inclinou a cabeça para observar o céu de outono e as águas infinitas do Lago Hong.


“E se continuarmos”, disse Xiang Shu com indiferença, “Passaremos por Shazhou⁶, por Loulan⁷ e para lugares ainda mais distantes. Eu acho que não haverá demônios da seca lá, nem Pérola Dinghai; não haverá qi espiritual do Céu e da Terra, nem exorcistas, nem yaoguais, demônios ou fantasmas. Não haverá nada, e você não precisará pensar em salvar ninguém nunca mais.”


De repente, Xiang Shu olhou diretamente para Chen Xing. Depois de observá-lo por um longo tempo, finalmente disse: “Deixe para lá. Amanhã, não importa o que aconteça com as Planícies Centrais, não se importe mais. Acene, e eu o levarei embora. Você quer ir?”


Assim que as palavras saíram de seus lábios, os olhos de Chen Xing de repente e inexplicavelmente ficaram vermelhos, e ele começou a engasgar enquanto olhava para Xiang Shu, respirando pesadamente. Durante a jornada que os dois haviam feito até aqui, todas as dificuldades compartilhadas, seus destinos entrelaçados pela vida e pela morte, as muitas adversidades que superaram — tudo passou rapidamente por sua mente. Uma torrente de emoções que ele não conseguia descrever ou sequer definir o engoliu como uma onda que o invadia.


“Não, Xiang Shu”, disse Chen Xing. “Já chegamos até aqui. Não quero desistir agora; mesmo que cada osso do meu corpo se quebre, mesmo que eu vá morrer amanhã, contanto que eu esteja vivo hoje, ainda teremos esperança, não é?”


Xiang Shu observou Chen Xing com sinceridade e, num instante, seu olhar tornou-se incomparavelmente gentil. As águas do Lago Hong batiam na margem, e em seu vai e vem, eles apenas continuavam a se encarar. Finalmente, os cantos da boca de Xiang Shu se curvaram levemente, e ele abriu a mão esquerda. A Pérola Dinghai repousava, como sempre, aninhada naquela palma. O que ele havia atirado no lago era apenas uma pedra.


“Eu só estava brincando com você”, disse Xiang Shu casualmente.


Chen Xing começou a sorrir e respondeu: “Eu sabia.”


“Vamos voltar, está prestes a nevar. Pensaremos em algo lentamente depois”, disse Xiang Shu, completamente despreocupado, antes de gesticular para que Chen Xing pegasse a Pérola Dinghai.


“Fique com ela", Chen Xing respondeu.


O vento frio soprou e uma neve leve e suave começou a cair nas margens do Lago Hong. A primeira nevasca do inverno havia chegado e, em uma noite, Jiangnan estava coberta de um branco brilhante. A neve de Jiangnan era completamente diferente daquela de Saiwai. Quando nevava em Chi Le Chuan, toda a cor no espaço entre o Céu e a Terra desvanecia para o cinza, mas depois que a neve parava de cair durante a noite em Jiankang, era como o espaço em branco de uma pintura a nanquim. Os contornos dos pavilhões e pagodes tornavam-se ainda mais distintas sob a neve, como se Wang Xizhi tivesse brandindo seu pincel com traços poderosos sobre a paisagem.


Muitos meses se passaram, e Chen Xing folheou todos os textos antigos que conseguiu encontrar em Jiankang. Xie An também o ajudou a reunir um conselho composto pelos jovens descendentes talentosos de Jiangdong, da família Xie, da família Wang, e um bom número veio até da família Sima. Eles poderiam ser considerados uma grande reunião de estudiosos de todo o mundo, mas, no final, não obtiveram nada.


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Notas:


1 Gou Mang (句芒), Deus não apenas da madeira, mas também da primavera. Ele governa principalmente o brotamento de árvores e plantas e, por isso, era muito importante e celebrado durante o Festival da Primavera  (como o Festival do Final do Outono, mas na primavera, para dar início ao ano agrícola).


2 为虎作伥 (Wèihǔzuòchāng), recolhendo os restos do inimigo; ajudando o inimigo.


3 Refere-se ao local onde os mortos são enterrados, no submundo.


4 O “五官” (Wǔguān) refere-se aos órgãos envolvidos nos cinco sentidos.


5 A Batalha de Banquan é uma batalha semi mitológica que ocorreu no século 26 a.C. Diz-se que, na época, Huangdi (o governante dos precursores do povo Han e patriarca do clã Xuanyuan) lutou contra Yandi, o Imperador da Chama. Chiyou era um dos membros do povo de Huangdi que não obedeceu a ordens e, em vez disso, causou estragos.


6 沙洲 (Shāzhōu ), ao redor da atual província de Qinghai e da Região Autônoma do Tibete, bem ao oeste da China moderna.


7 楼兰 (Lóulán), Também chamado de Reino Loulan, completamente separado do povo Rouran, das pastagens mongóis. O Reino Loulan estava localizado ao longo da Rota da Seda, na Bacia do Tarim, na região que hoje corresponde a Xinjiang.


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Flor: OMG ESSE CAPÍTULO 🥰😭


Esses dois se amam demais



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