Extra 3 - Deixando o Passo Yang, Não Haverá Velhos Amigos.
Nota: O título “西出阳关无故人” é uma linha famosa do poeta
chinês Wang Wei, refletindo uma
despedida melancólica, onde o Passo Yang representa um ponto de passagem na
fronteira oeste da China antiga.
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“Você ainda se lembra do
dia em que nos conhecemos?”
“Que dia? Não me diga que
foi naquele dia. A shifu disse que nos conhecemos quando éramos muito jovens…”
“Um deles manterá a Chama
Sagrada acesa.”
“O outro guardará fielmente
esta chama até o dia em que ela se extinguir.”
A Sacerdotisa Zoroastrista,
no Templo de Bazin, assistiu ao nascimento de seu segundo filho. Ela nomeou o
menino “Tegla”, que significa “Chama que Arde nas Cinzas”. Sua mãe era a
Princesa Sassânida Morido Isai.
Um ano atrás, no mesmo
lugar, ela também auxiliou no parto da esposa de Delan, o Sábio Guerreiro.
Aquele menino foi chamado de “Qiong”, que significa “Protetor da Chama”.
“Ele e ele”, disse a
sacerdotisa com serenidade, “guiarão o futuro de vocês.”
O apóstolo entregou à
rainha Ashina Qiong, de um ano, para que fosse criado ali. A rainha, ao ver o
bebê, esboçou um sorriso melancólico e comentou: “Ele tem olhos gentis como os
de sua mãe...”
“A esposa de Delan já se
foi.”
A sacerdotisa observava
Ashina Qiong, que, com seus olhos âmbar, piscou e agarrou seu dedo.
“Delan e Isai estão em
Bagdá lutando para recuperar o que os profetas perderam…”, a sacerdotisa disse
lentamente, “deixe-os se encontrarem, e então Qiong terá que partir.”
O apóstolo mostrou Ashina
Qiong à rainha que acabara de dar à luz, e o levou embora. No templo, só
restava o choro de Tegla – ecoando pela primeira vez no mundo.
Aquele teria sido o
primeiro encontro deles?
Talvez eles só se
conhecessem de verdade depois de muito, muito tempo.
“Não, não, você nem abriu
os olhos naquele dia. Como isso pode ser considerado como se conhecendo! Estou
falando daquele dia.”
“Ah... agora eu me lembro,
nevou em Bagdá.”
“Viu, eu disse que você se
lembrava.”
A-Tai, é claro, se lembrava
daquele dia…
Aquela foi uma noite de
inverno cheia de combates e gritos. Bagdá foi coberta por uma neve rara, que
não se via há cem anos. Seu tio havia sido traído, e o Clã Isai escondido na
cidade foi vendido. Antes que o Exército Tang chegasse, o jardim secreto nas
profundezas do mercado havia sido cercado e incendiado. Os soldados vestidos de
preto haviam começado uma busca de casa em casa.
“Não podemos mais esperar
pelas tropas Tang!” O último ancião do Clã Isai gritou. “Deixe Tegla acender a
Chama Sagrada! Vamos derrubar o Califa esta noite!”
A-Tai, que tinha oito anos,
estava usando o manto de um sumo sacerdote, tremendo, ele deu meio passo para
trás. Os guerreiros na sala estavam gritando, mas ele nem conseguia ouvir o que
eles gritavam. Alguém agarrou o colarinho de A-Tai e disse muitas coisas para
ele com urgência. Seu tio forçou o Anel da Chama Sagrada em sua mão. O anel foi
colocado no polegar de A-Tai, então, eles o pegaram e correram para fora do
Jardim Secreto, matando seu caminho para fora.
Naquela noite, os
discípulos escondidos em Bagdá finalmente arrancaram seus véus e turbantes,
sacaram suas cimitarras e acenderam a Chama Sagrada em vários pontos da cidade.
Os guardas do Califa montaram suas bestas e atiraram nos hereges por toda
parte.
Sangue respingou no rosto
jovem de A-Tai, enquanto seu clã matava uns aos outros em todos os lugares –
por causa dos diferentes deuses em que acreditavam.
“Rezem!”
Isai colocou A-Tai na
frente do altar no norte da cidade e rugiu: “A Chama Sagrada reacenderá!”
O pequeno corpo de A-Tai
foi pressionado contra o chão no centro do altar.
“Eu não consigo fazer
isso”, A-Tai soluçou e disse com a voz trêmula, “A Chama Sagrada me
ignora. Deus Ahura Mazda nunca me deu uma semente da chama... eu não consigo
fazer isso... eu não consigo fazer isso…”
“Então morra!” Isai rugiu
com raiva. “Morra! Sacrifique-se nas cinzas!”
O fogo quase destruiu
Bagdá, as chamas devoraram as casas e ruas da cidade. As chamas do
zoroastrismo, as espadas afiadas dos islâmicos e os sons sibilantes das flechas
voando pelo ar o deixaram extremamente aterrorizado.
“Não consigo”, A-Tai fechou
os olhos e agarrou o Anel da Chama Sagrada firmemente com o polegar. Ele
gritou: “Não consigo fazer isso... A Chama Sagrada foi extinta, ela não está
mais queimando…”
Até que viu o jovem
caminhando pela matriz do altar à sua frente.
Ashina Qiong, de nove anos,
tinha a cabeça enrolada em trapos. Seus olhos âmbar carregavam uma frieza
diferente aos das outras crianças quando ele pisou na borda da matriz.
“Leve-o embora.”
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Oito anos depois, o Sábio
Guerreiro Delan retornou a Bagdá com seu filho. Ele disse em voz profunda:
“Está tudo acabado agora. Vão viver suas vidas. Você não tem mais nenhuma
responsabilidade sobre seus ombros, então não há necessidade de nos vingar…”
Ashina Qiong levantou a
cabeça para olhar para seu pai.
Delan deu um tapinha na
cabeça de Ashina Qiong antes de olhar para as costas de Isai no altar.
Sob a plataforma alta
estavam todas as tropas dos guerreiros vestidos de preto, e o povo sassânida
quase foi massacrado. Somente no Palácio Imperial do Califa, em frente ao
altar, estava o Sultão em vestes luxuosas, sob a proteção de um grupo de
guerreiros, observando de longe os derrotados zoroastrianos no altar.
Isai segurou uma tocha e a
jogou na matriz. As chamas subiram para o céu, transformando-se em uma luz
branca que disparou para o alto.
O Sábio Guerreiro Delan
gritou: “Qiong! Depressa!”
Ashina Qiong imediatamente
se curvou e correu para o mar de chamas.
A-Tai se virou para olhar a
cena, mas Ashina Qiong o derrubou no chão.
As chamas incendiaram seu
cabelo e sobrancelhas. A-Tai gritou, mas Ashina Qiong protegeu sua cabeça. As
duas crianças caíram da plataforma alta que tinha quase dez zhang de altura,
como meteoros em chamas.
O corpo de Isai foi
queimado até ficar carbonizado no altar.
“Deixe isso para lá”,
sussurrou Delan, “Isai, nesta vida, nós finalmente nos libertamos.”
Segurando a roda dourada na
horizontal, Delan atraiu as chamas no altar e se transformou em um raio de luz
na plataforma em chamas, que voou em direção ao califa à distância.
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Ashina Qiong, segurando o
último herdeiro sassânida, caiu com um estrondo na água, levantando uma chuva
de respingos no fosso ao redor da cidade, ele se sentiu tonto e viu vagamente a
última glória de seu pai sob o manto da noite.
Aquela noite marcou
oficialmente a queda do Império Sassânida.
“Huff… Huff…”
Ashina Qiong pegou A-Tai,
que era apenas um ano mais novo que ele, e correu o mais rápido que pôde no
deserto. A-Tai quase caiu várias vezes, mas Ashina Qiong o segurou firmemente.
“Fuja!” Ashina Qiong
gritou. “Se você ainda quer viver!”
A-Tai se curvou, respirando
com dificuldade.
Desde o nascimento, ele era
tratado como uma ferramenta, sendo levado do templo e entregue a seu tio Isai.
Todos olhavam para ele como se estivessem olhando para a herança do Império
Sassânida. Ninguém se importava com seus pensamentos, muito menos com sua vida
ou morte. Mesmo no final, quando seu tio não tinha esperança de restaurar seu
império, seu pensamento final foi queimá-lo até a morte como um símbolo de
gratidão a todo o clã.
Neste momento, A-Tai
finalmente tomado por uma raiva inexplicável, se livrou da mão de Ashina Qiong
e gritou: “Ir embora?! Se você quer ir, vá sozinho!”
Ashina Qiong, sem dar
nenhuma explicação, agarrou a gola de A-Tai com uma mão e disse cruelmente em
seu ouvido: “Lixo, você é um lixo!”
Os olhos de A-Tai se
arregalaram de repente. Ele tinha ouvido essa frase inúmeras vezes,
sempre ditas subconscientemente por seu tio e pelos ministros exilados durante
suas discussões, e ele as ouvia escondido.
Ele sabia que todos
depositavam esperança nele, esperando que um dia, como sumo sacerdote,
convocasse a Chama Sagrada dos céus para purificar tudo e reduzir seus inimigos
a cinzas.
Mas não importava como ele
cultivasse, ele era incapaz de convocar a Chama Sagrada, nem de usar a herança
do Império Sassânida. Isai e seus companheiros de clã já acreditaram que o Deus
Ahura havia abandonado os Sassânidas, ou que esse sobrinho dele não era o
profeta destinado a guiar os Sassânidas para uma nova glória.
A única vez foi quando ele
assumiu como sumo sacerdote. A-Tai finalmente teve sucesso em invocar as
chamas, que dançaram ao redor de seu corpo, formando as runas de luz eterna do
Zoroastrismo.
Assim, a esperança dos
homens do clã foi reacendida.
No entanto, A-Tai não
realizou nenhum milagre por um ano inteiro depois disso.
Sua confiança abalada,
crença devota e desejo pela glória do passado... Incontáveis esperanças, decepções e até mesmo desespero, teceram
uma enorme rede de rumores da qual ele não
conseguia se libertar.
Finalmente, esta noite,
todos estavam mortos, e ele estava finalmente livre.
“Se você for pego pelo
Exército Vestido de Preto”, Ashina Qiong abaixou a voz, como uma fera furiosa,
e ameaçou, “você sabe o que vai acontecer? Você sofrerá a humilhação mais
dolorosa do mundo, e só então você morrerá!”
No entanto, o rosto
delicado de A-Tai, que era tão delicado quanto o de uma garota, não mostrou o
menor sinal de pânico. Essa frase já havia sido dita a ele por mais de uma
pessoa — qual seria o destino de um príncipe indefeso, nas mãos de seus
perseguidores? Ele já havia vislumbrado seu próprio destino sombrio em
inúmeros pesadelos.
“Se você não quer morrer,
venha comigo!” Ashina Qiong disse, então observou a situação ao redor, e quando
ele estava prestes a sair... A-Tai puxou a adaga da cintura de Ashina Qiong, a
pressionou contra sua própria garganta, recuando meio passo.
“Tegla, pare!” Ashina Qiong
ao ver aquela cena, sentiu um frio percorrer sua espinha.
“Não faço ideia de quem
você seja.” Um sorriso triste apareceu nos lábios de A-Tai. “Mas para mim, tudo
isso finalmente acabou! Cansei de ser tratado como uma marionete, manipulado à
vontade, e ninguém pode mais me controlar…”
Ashina Qiong: “...”
“Você pode ir”, disse
A-Tai. “Não importa quem você seja, obrigado por me acompanhar até o fim desta
jornada…”
“Eu sou seu cavaleiro!”
Ashina Qiong, em desespero, finalmente revelou sua identidade. “Eu sou seu
cavaleiro! Meu nome é Ashina Qiong! Pare!”
A-Tai franziu a testa e
olhou para Ashina Qiong.
Ashina Qiong lentamente
estendeu a mão e estava prestes a pegar a adaga na mão trêmula de A-Tai quando
uma flecha voou não muito atrás dele e, de repente, ele começou a sangrar.
Ashina Qiong caiu sobre
A-Tai, e as duas crianças rolaram ladeira abaixo.
Risadas desenfreadas
soaram. Dois soldados vestidos de preto os alcançaram, montaram em seus cavalos
e desceram. Eles guardaram seus arcos e flechas, giraram seus chicotes e, no
momento que estavam prestes a chicotear Ashina Qiong, que parecia imóvel, quando,
em um ato de proteção, ele usou um braço para cobrir A-Tai, girou o corpo e
arrancou a flecha cravada em seu ombro!
O sangue espirrou. Então,
Ashina Qiong atirou uma flecha e acertou a garganta do soldado vestido de
preto!
A outra pessoa não esperava
que esse garoto fosse tão corajoso. Ele imediatamente virou seu cavalo.
Ashina Qiong atirou outra
adaga e matou a segunda pessoa.
Ashina Qiong empurrou A-Tai
para cima do cavalo e gritou: “Você sabe cavalgar?”
“Não... eu não sei”,
respondeu A-Tai com a voz trêmula.
Ashina Qiong não teve outra
opção senão virar-se para trás e montar no mesmo cavalo que ele, e juntos
galoparam em direção ao fim da planície.
A-Tai se virava de vez em
quando, mas acidentalmente esbarrou em Ashina Qiong, que estava coberto de
sangue.
“Não olhe para trás!”
Ashina Qiong disse.
Atrás deles, havia um
exército de guerreiros vestidos de preto, avançando como uma maré, quase 30 mil
guerreiros correram em massa para capturar Tegla e aniquilá-lo completamente!
“Vá embora!” A-Tai disse.
“Não se preocupe comigo!”
Os olhos de Ashina Qiong
gradualmente ficaram embaçados. A perda excessiva de sangue deixou seu corpo
inteiro frio. Ele inconscientemente pressionou as costas de A-Tai, e as mãos
que seguravam as rédeas também começaram a cair sem força, descansando nas coxas
de A-Tai.
“Meu pai... para te
salvar... já morreu”, disse Ashina Qiong lentamente. “Minha missão é... te
proteger... infelizmente... cheguei tarde demais. Eu sei... isso é... injusto
com você... apenas trate isso como, viver para mim… um estranho…”
O coração de A-Tai parecia
estar suspenso no ar no momento em que o cavalo de guerra saltou. De repente,
uma chuva de flechas atingiu o cavalo, jogando ambos violentamente ao chão, no
meio do campo aberto.
Ashina Qiong abraçou A-Tai
e caiu do cavalo.
Os dois rolaram no chão. As
vestes cerimoniais pretas de A-Tai estavam rasgadas em farrapos, mas ele ainda
segurava a mão de Ashina Qiong com força.
Os dedos de Ashina Qiong se
afrouxaram lentamente enquanto sussurrava: “Corra…”
A-Tai abraçou Ashina Qiong
e se ajoelhou no meio do campo aberto. Os soldados vestidos de preto os
cercaram de todos os lados, dezenas de milhares deles levantando suas bestas.
A-Tai abraçou Ashina Qiong
com força enquanto soltava um grito rouco e furioso.
Num instante, um raio de
fogo divino desceu dos céus, e o anel da Chama Sagrada brilhava intensamente,
formando um anel de fogo que se expandiu varrendo à frente deles, como um
redemoinho de chamas!
O deserto se transformou em
um inferno, e dezenas de milhares de pessoas foram enterradas em um mar de
fogo. Até onde os olhos podem ver, a terra estava chamuscada, e inúmeras
faíscas negras subiam para o céu.
No fim do inferno, o
Exército Tang, que havia atravessado montanhas e rios, irrompeu nas fronteiras
da batalha.
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“Ele não consegue controlar
seu poder”, a velha sacerdotisa sussurrou no jardim. “Durante todo o tempo que
Isai o levou, eu sempre o avisei que a missão de Tegla era reacender a Chama
Sagrada, não para se tornar uma ferramenta para massacrar cidades.”
O general do Exército Tang
ficou de costas para a entrada principal do Templo Sagrado.
“Não me importa qual seja
seu plano”, disse o general seriamente, “Isai não esperou que chegássemos e
lançou um ataque com antecedência. Como posso voltar e explicar a Sua
Majestade?”
“General Gao”, disse a
sacerdotisa com um sorriso, “por favor, diga ao Khan Celestial¹ que sinto
muito.”
Aquele general era Gao
Xianzhi!
Gao Xianzhi andou pelo
salão e disse à sacerdotisa: “Tenho que levá-lo embora e devolvê-lo ao Khan
Celestial.”
“Ele irá”, sussurrou a
sacerdotisa, “mas não agora. Qiong, o que você está fazendo?”
Lá fora, ouvindo
secretamente, com o corpo coberto de feridas, Ashina Qiong imediatamente se
virou, encostando-se em um pilar de pedra do lado de fora da porta.
Dentro do templo, Gao
Xianzhi disse novamente: “Vocês não podem proteger Isai. Sacerdotisa, você está
velha demais.”
“Ele tem seus cavaleiros”,
disse a sacerdotisa, “Ashina Qiong é filho único do Sábio Guerreiro Delan, ele
protegerá Tegla. Tegla e a Grande Tang sempre tiveram uma ligação inseparável.
Acredite em mim, com o tempo, ele irá encontrar pessoalmente Sua Majestade, o
Khan Celestial.”
Gao Xianzhi disse: “Depois
que você morrer, será uma criança de nove anos protegendo uma criança de oito
anos.”
Ashina Qiong observou a
figura alta de Gao Xianzhi ir embora.
A sacerdotisa apoiou-se na
bengala e saiu do templo com dificuldade, dizendo: “Vamos, pequeno cavaleiro,
vamos ver como está o pequeno príncipe.”
“Eu não quero ser um
cavaleiro!” Ashina Qiong disse em voz baixa.
A sacerdotisa não
respondeu, conduzindo-o pelo pátio, dizendo: “Vocês dois nasceram aqui. Sua mãe
e a Princesa Isai eram boas amigas.”
Ashina Qiong franziu a
testa com força.
A sacerdotisa disse: “Nos
dois anos em que vocês nasceram, ainda havia muitos apóstolos no templo, era
mais animado do que agora. Depois de tantos anos, muitos mestres morreram. É
uma pena.”
O Templo de Bazin já foi o
lugar onde Zoroastro, o Patriarca do Zoroastrismo, dava palestras. Também
simbolizava a criação do Céu e da Terra. A batalha entre o bem e o mal era como
um raio que cortava o céu sombrio.
“Centenas de anos depois,
outro profeta escreverá um livro imortal em nome de Zoroastro.” A sacerdotisa
disse. “Vi tudo isso nas chamas... Uma nova missão nascerá das cinzas. Mas
estando no meio disso, o tempo é nosso maior inimigo…”
“Por quê?” Ashina Qiong
perguntou.
A sacerdotisa lançou um
olhar de aprovação para Ashina Qiong, ele perguntou: “Por que Tegla não
consegue convocar a Chama Sagrada?”
A sacerdotisa perguntou: “É
realmente assim?”
A sacerdotisa usou sua
bengala para levantar gentilmente as cortinas do quarto e levou Ashina Qiong
para dentro.
A-Tai ainda estava deitado
inconsciente na cama. Seu corpo era branco e magro, seu rosto era perfeito e
lindo e seus longos cílios se moviam levemente, como se ele estivesse
produzindo um lindo sonho.
“O milagre já se revelou
para você”, disse a sacerdotisa em voz baixa, batendo levemente em Ashina com
sua bengala. “Esta é a revelação do Zoroastro para você, caso contrário, como
vocês teriam voltado aqui?”
Ashina Qiong disse: “Quer
dizer, o Deus do Fogo pode obviamente ajudá-lo no altar, ajudar meu pai! Salvar
nosso povo! Por que não faz isso?”
A sacerdotisa sentou-se ao
lado do sofá e disse: “Os caminhos do mundo são incertos, o bem e o mal dos
céus não seguem um caminho fixo, mas se manifestam em uma única pessoa. Se a
Chama Sagrada fosse convocada e queimasse Bagdá, Tegla se tornaria um sacrifício
para este desastre. Por outro lado, foi precisamente por isso que o Príncipe
conseguiu sobreviver. Você ainda não entendeu?”
Ashina Qiong entendeu
aproximadamente que se um milagre fosse convocado na plataforma alta, toda
Bagdá seria destruída pelo fogo, o magma jorraria do solo e A-Tai teria que
pagar pela vida de todos aqueles que morreram neste desastre.
“Mas não é esse o destino
de nossas vidas?” Ashina Qiong disse teimosamente. Nessa frase, ele não disse
‘ele’, mas usou outra palavra — ‘nós’.
“Que destino?” A
sacerdotisa perguntou calmamente. “O destino de ser uma oferenda? Tegla está
destinado a ser uma oferenda, e você é o cavaleiro leal que envia essa
“oferenda” para a morte?”
Ashina Qiong disse
teimosamente: “Foi isso que todos me disseram.”
A sacerdotisa disse:
“Então, de quem é essa vontade? A vontade de Deus?”
Ashina Qiong não respondeu.
A sacerdotisa: “A vontade
dos mortais?”
Ashina Qiong: “...”
A sacerdotisa disse: “Deus
nunca disse tais palavras.”
Dito isso, ela levantou sua
mão enrugada e, segurando os dedos finos, mas calejados, de Ashina Qiong por
praticar com uma adaga, ela colocou-a no peito nu e magro de A-Tai.
Ashina Qiong parecia não
querer aceitar tal manipulação e fez o possível para retrair a mão.
“Coloque sua mão no peito
dele”, sussurrou a sacerdotisa, “e você sentirá o coração de Tegla.”
“Não!” Ashina Qiong disse.
A-Tai se mexeu
desconfortavelmente, como se estivesse prestes a acordar.
Ashina Qiong parecia um
pouco assustado. Ele se virou e saiu rapidamente do quarto.
Então, A-Tai finalmente
abriu os olhos. A sacerdotisa acariciou gentilmente sua testa.
“Já passou”, disse a
sacerdotisa. “Qiong vai te acompanhar.”
Havia um traço de confusão
nos olhos de A-Tai.
Daquele dia em diante,
Ashina Qiong quase não falou com A-Tai, mas o templo era apenas tão grande.
Depois que A-Tai se
recuperou, ele continuou diligentemente seus estudos todos os dias sob a
orientação da sacerdotisa, lendo Avesta e passava o resto do tempo
ajoelhado diante das brasas no templo, orando.
Ashina Qiong estava no
jardim do lado de fora do salão, praticando suas técnicas de assassinato e
chutes contra alguns bonecos de madeira, ocasionalmente, ele olhava para A-Tai.
A-Tai tinha uma aparência
muito delicada. Seu cabelo estava solto, e havia rubis amarrados em suas
tranças. Ele parecia mais uma linda garota. Os moradores da cidade de Bazin que
subiam da montanha para levar comida, sempre achavam que A-Tai era a nova sacerdotisa.
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No entanto, a Chama Sagrada
não reacendeu, e o príncipe e o cavaleiro raramente conversavam um com o outro,
até que a barba cresceu nos lábios de Ashina Qiong...
Com o passar do tempo, eles
cresceram gradualmente.
Quando novas folhas brotam
das copas das árvores, folhas secas inevitavelmente caem no chão. Em outro
outono, em uma noite em que as folhas de bordo no Templo Sagrado perto do Mar
de Aral murcharam, a sacerdotisa faleceu.
Antes de morrer, ela sequer
deixou qualquer instrução, e A-Tai não sabia para onde o templo sagrado e as
brasas do altar iriam no futuro.
Poucos dias depois, A-Tai e
Ashina Qiong se despediram da sacerdotisa. Eles a colocaram em uma pequena
balsa cheia de flores e a empurraram até o fim do Mar de Aral.
Ashina Qiong imitou o
ritual que aprendeu viajando pelo oeste com seu pai quando era criança. Ele
disparou um foguete para o céu e as chamas caíram sobre a balsa, como uma
lâmpada saindo para o mar, extinguindo-se gradativamente com o vento e as ondas
do Mar de Aral.
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Quando a noite caiu, a
única coisa que restou foi o céu noturno aveludado cheio de estrelas
cintilantes.
“Eu não entendo”, disse
Ashina Qiong.
“Não entende o quê?” A-Tai
e Ashina Qiong caminharam lado a lado, subindo lentamente a montanha de volta
ao Salão Sagrado.
“Eu não entendo”, disse
Ashina Qiong, “agora que a glória de Talas pereceu, e a Chama Sagrada está
finalmente extinta, e os sassânidas são passado, e a partir de agora, você não
precisa mais fazer nada pelo seu povo, por que você permanece aqui?”
“Você também não está
aqui?” A-Tai respondeu.
Ashina Qiong queria dizer:
‘É porque não tenho para onde ir.’ Mas quando as palavras estavam prestes a
sair de sua boca, ele mudou de ideia e disse: “Porque desde o dia em que nasci,
eu estava destinado a ser seu cavaleiro. Este é o meu fardo.”
“Então você pode ir embora,
Qiong”, disse A-Tai. “A shifu disse que eu não sou mais o Príncipe Sassânida, e
você não é mais o cavaleiro do príncipe.”
Eles caminharam até a
frente do Templo Sagrado. Ambos sabiam que se o Reino Sassânida ainda existisse
neste mundo, então só restavam duas pessoas neste reino: Tegla e Ashina Qiong
sob o céu noturno.
“Muito bem”, disse Ashina
Qiong, no final.
Esses dois sobrenomes, que
por milênios brilharam nas terras persas e foram contados em inúmeras histórias
antes de dormir, em noites sem sono, finalmente chegaram ao fim de sua jornada
nesta noite.
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Ashina Qiong começou a
arrumar suas coisas, enquanto A-Tai observava silenciosamente do lado de fora
do quarto.
Ashina Qiong arrumou suas
coisas muito lentamente, embora tivesse muito pouco. De repente, ele parou,
percebendo que, na verdade, não precisava de nada.
“Vou deixar todo esse
dinheiro para você”, disse Ashina Qiong.
Havia muitas moedas novas,
tanto de ouro quanto de prata, com a imagem do califa impressa na velha bolsa
de dinheiro.
Quando a sacerdotisa ainda
estava viva, havia muito poucas oferendas no Templo Zoroastriano. A cada dez
dias, Ashina Qiong cortava as rosas no jardim, pacientemente removia os
espinhos e as levava para a cidade de Bazin para vender.
“Eu não preciso disso”,
disse A-Tai. “Você pode levar com você.”
“Sua Alteza”, disse Ashina
Qiong, “você vai morrer de fome. Venha, isso também é para você.”
Ashina Qiong colocou uma
adaga sobre a bolsa de dinheiro. Era a adaga que A-Tai tirou da cintura de
Ashina Qiong no dia em que se conheceram, com a intenção de cometer suicídio
diante dos soldados vestidos de preto.
“Cuide de si mesmo”, disse
Ashina Qiong, trocando para as roupas de um viajante e saindo do quarto.
No entanto, as tochas no
sopé da montanha já estavam serpenteando.
A notícia da morte da
sacerdotisa se espalhou por todo o Mar de Aral em poucos dias. A última pessoa
que o Califa temia estava morta, então os soldados vestidos de preto não
hesitaram mais, avançando diretamente e ocupando toda Bazin, subindo a
montanha.
Dessa vez, não havia tropas
Tang para resgatá-los.
Ashina Qiong ouviu os
gritos e saltou para a muralha do templo, vendo milhares de soldados árabes
avançando contra o templo sem encontrar qualquer resistência.
“Vamos!” Ashina Qiong
disse. “Eles estão aqui de novo!”
A-Tai não respondeu, se
virou e saiu do Templo Sagrado. Depois de trocar de roupa para suas vestes de
sacerdote, ele rapidamente caminhou até o Salão das Brasas e se ajoelhou em
frente ao altar.
“Você está louco!” Ashina
Qiong gritou.
“Eu ficarei aqui”, disse
A-Tai com a voz ligeiramente trêmula, mas rapidamente recuperou a calma e, em
voz baixa, acrescentou, “Sua missão também finalmente terminou... Qiong, vá
embora, não precisa mais me proteger.”
Ashina Qiong olhou
incrédulo para fora do templo. A-Tai segurou a adaga e a colocou na frente do
altar, sussurrando: “Durante todos esses anos, a Chama Sagrada me ensinou que o
fogo proporciona calor às pessoas, e não destruição…”
Ashina Qiong rugiu: “Eu não
me importo com o que você pensa de si mesmo! Vá embora! Você tem que ir
embora!”
Os portões do Templo
Sagrado ruíram com um estrondo alto, e o exército árabe finalmente conseguiu
atacar.
Mas diante de dois jovens
quase adolescentes, era quase uma carnificina sem esperança.
“Vá!” Ashina Qiong fez o
melhor que pôde. Seu corpo estava coberto de sangue, e os sons de matança eram
intermináveis. Era como se ele tivesse retornado ao dia em que nevou em Bagdá.
Os arredores do Templo
Sagrado estavam completamente cercados. Ashina Qiong rastejou em direção a
A-Tai por uma poça de sangue. Seus lábios manchados de sangue se moveram
levemente, mas ele não conseguiu dizer nada. Um sorriso amargo apareceu em seu
rosto.
“Eu... Tegla”, Ashina Qiong
sussurrou. “Para evitar que você seja humilhado, eu só posso…”
Ashina Qiong segurou a
adaga em sua mão e pressionou o ombro de A-Tai. A-Tai gentilmente o abraçou em
frente ao altar e o deixou deitar em seus braços enquanto segurava a adaga. O
sangue deles escorreu pelo corpo de Ashina Qiong.
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Naquela noite, em Hégira,
em Ctesifonte, e até mesmo em Bagdá, a milhares de li dali, centenas de
milhares de pessoas ouviram um conto que se tornaria imortal.
A Chama Sagrada do templo
de Bazin brilhou intensamente, formando um pilar de luz que alcançou o céu ——
A adaga na mão de Ashina
Qiong reuniu o poder suave das chamas, varrendo como um vendaval.
A Chama Sagrada foi
reacendida, destruindo instantaneamente quase metade do templo.
Ashina Qiong olhou para
A-Tai perplexo.
De dentro das chamas, uma
voz veio de longe:
“Você finalmente encontrou
o que precisa proteger…”
“A Chama Sagrada lhe deu
uma nova chance de vida, longe de ser destruição…”
Ashina Qiong: “Eu...”
“Agora, restam só nós dois
Sassânidas”, A-Tai disse em voz baixa.
Na chama furiosa, o Céu e a
Terra se encheram de luz, espalhando-se esmagadoramente como um mar de ouro.
“Mas eu acredito”, A-Tai
disse suavemente, “não importa onde formos, a chama nunca se extinguirá...”
“Agora que penso nisso,
aqueles foram os dias mais felizes de nossas vidas.”
“É mesmo? Sinto que os dias
mais felizes ainda estão a muitos anos de distância. Eles ainda não chegaram de
verdade.”
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Depois daquele dia, as
brasas no Templo de Bazin foram subitamente extintas, e não havia mais Chama
Sagrada no mundo.
Mas A-Tai e Ashina Qiong, o
príncipe e o cavaleiro, pareciam ter renascido.
O templo estava em ruínas,
e as cinzas no altar se espalharam com o vento. A-Tai fez as malas e embarcou
na estrada para o mundo com Ashina Qiong.
Ashina Qiong franziu a
testa em confusão enquanto guardava o alaúde de A-Tai. De fato, tampura,
alaúde, pipa²... ele nunca conseguia distinguir esses instrumentos. Eles usaram
o pouco dinheiro que restava para comprar uma carroça. Durante o dia, passavam
pelos vilarejos ao longo do caminho, partindo de Bazin, atravessando a Anatólia
— naquela época, um lugar mais distante do ocidente, chamado de “Ásia Menor”.
A-Tai tocava instrumentos
para as crianças, observando seus sorrisos alegres. Às vezes, Ashina Qiong
pegava algumas facas de arremesso e fazia malabarismos, acompanhando A-Tai para
divertir as crianças.
“Vamos”, A-Tai sorriu, “Hǎi miè hóu bǐ, até a próxima vez——”
“O que você quer fazer?”
Ashina Qiong pulou na carroça e sacudiu as rédeas. “Para onde estamos indo?”
“Vá para o lugar onde outro
sacerdote nasceu”, disse A-Tai.
Eles viajaram ao longo das
fronteiras da Ásia Menor, chegando à costa do Mediterrâneo. Nas águas claras,
Ashina Qiong arregaçou as calças e caminhou descalço para dentro do mar,
jogando seixos lisos em direção à superfície. A-Tai, com o cabelo longo solto,
sentou-se no cais branco, dedilhando suavemente o instrumento em suas mãos.
Ashina Qiong perguntou:
“Você consegue sentir a Chama Sagrada?”
“Está em nossos corações”,
disse A-Tai. “Ahura dividiu a chama em duas e nos deu. Você não consegue
sentir?”
Ashina Qiong tinha uma
expressão indescritível no rosto. Ele balançou a cabeça e olhou para longe.
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Naquele ano, eles foram a
Atenas e Roma, foram a Jerusalém, no topo das montanhas da Judeia. Seguindo os
mercadores de seda do Oriente, partiram de Chang’an e chegaram à Veneza. Ashina
Qiong remava uma pequena gôndola, carregando A-Tai, através dos canais de
Veneza.
Naquele ano, A-Tai
tornou-se uma pessoa famosa e conhecida por todos.
Depois de deixar a costa do
Mediterrâneo, A-Tai e seu cavaleiro retornaram à Mesopotâmia. Já se passaram
quatro anos desde que eles deixaram o templo da Chama Sagrada. O Crescente
Fértil agora fazia parte dos territórios islâmicos. No entanto, nesta terra,
Ashina Qiong finalmente viu o que a sacerdotisa havia dito: “As brasas nunca
serão extintas”.
Embora não haja mais chamas
no templo sagrado, os sassânidas que viveram nesta terra ainda anseiam pelo
calor e entusiasmo da chama.
Os sorrisos das crianças, a
tristeza nos olhos dos mais velhos, a esperança do povo sassânida para o
futuro.
“Todos eles sabem quem
somos.” A-Tai dedilhou as cordas e tocou um som tão frio quanto uma fonte
gelada.
“Mn.” Ashina Qiong disse.
“Só que ninguém fala.”
Ashina Qiong pouco a pouco
compreendeu o significado de tudo o que seu príncipe havia feito.
“A Chama Sagrada perguntou
a você”, disse Ashina Qiong, “sobre o verdadeiro significado de orar pela Chama
Celestial?”
Com um sorriso nos lábios,
A-Tai olhou para as costas de Ashina Qiong que conduzia a carroça e não
respondeu.
Ashina Qiong disse para si
mesmo: “O pai disse que se você quer obter o favor da Chama Sagrada, você deve
ter alguém em seu coração que esteja disposto a protegê-lo.”
“Para esta pessoa, ou para
estas pessoas”, disse Ashina Qiong, “Mesmo que fossem queimados até as cinzas
nas chamas, eles não teriam medo.”
A-Tai ainda não respondeu.
Ashina Qiong acrescentou levemente: “Então, naquela noite no templo, quando as
brasas foram reacendidas…”
A-Tai dedilhou as cordas e
respondeu a Ashina Qiong com uma canção, enquanto cavalgavam para longe sob o
céu estrelado.
O nome do místico ecoou no
Crescente Fértil, cada centímetro de terra que já foi governado pelos
sassânidas, mas agora estava nas mãos do califa.
Ashina Qiong descobriu que
poderia invocar milagrosamente o poder do Deus do Fogo. Em uma guerra não muito
depois, ele e A-Tai entraram no campo de batalha e ajudaram as tribos no sopé
da montanha a repelir a invasão do exército vestido de preto.
E logo após o fim da
guerra, um homem mascarado chegou à frente de sua carroça e retirou o véu.
“Amman?!” Ashina Qiong
ficou surpreso.
A-Tai ainda estava sentado
na carruagem, em silêncio.
Amman, junto com os
guerreiros que se esconderam na Guarda do Califa após a queda do Império
Sassânida, fez um gesto simples e ajoelhou-se em um joelho diante de A-Tai.
“Finalmente o encontramos,
Príncipe Isai”, Amman disse suavemente.
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Na noite de inverno daquele
ano, as luzes do Templo Sagrado foram acesas novamente. Como seu pai e tio,
A-Tai aceitou a lealdade do povo do império caído. Ashina Qiong, já acostumado
com sua identidade, permaneceu fielmente ao lado de A-Tai, sem dizer uma
palavra.
“Contanto que você mostre
um milagre ao povo, o Império Sassânida definitivamente será restaurado!” Amman
disse.
“Sua Alteza”, o resto do
povo disse. “Deixe a Chama Sagrada reacender!”
“Ainda temos dezenas de
milhares de pessoas”, Amman disse a A-Tai. “Estamos esperando o retorno de
Isai…”
“Voltem para suas vidas”,
disse A-Tai. “Eu não serei mais como meu pai e meu tio.”
O Templo Sagrado ficou em
silêncio.
Em meio ao silêncio, A-Tai
disse lentamente: “Meu povo vive nesta terra para sobreviver, não para matar.
Apenas confiando em milagres, posso despertá-los para lutar por mim, mas no
final, será apenas outra matança que durará vários anos... O trono de Isai já
está manchado de sangue, uma restauração assim, eu prefiro não ter.”
Amman disse: “Você vai
descobrir um dia.”
“Eu vou.” A-Tai sorriu.
“Mas não agora, Amman.”
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Depois daquela noite,
Ashina Qiong ficou no pátio a noite toda.
“Vamos embora”, disse
Ashina Qiong. “Eu suspeito que a pessoa que nos delatou ao califa quando éramos
crianças foi Amman.”
“Ele não trará ninguém para
nos capturar”, disse A-Tai. “Não se preocupe.”
Após retornarem ao Templo
Sagrado, Ashina Qiong e A-Tai retomaram suas vidas de infância. Eles não
disseram uma palavra por um longo tempo, mas ambos sabiam muito bem que um dia
o Império Sassânida seria restaurado sob a luz da Chama Sagrada.
“O que você está pensando?”
Ashina Qiong perguntou a A-Tai.
“Toda a família Isai tem a
loucura gravada em seu sangue”, disse A-Tai suavemente. “Às vezes me pergunto:
qual teria sido o resultado se as tropas Tang tivessem chegado mais cedo
naquele dia?”
“Você quer ir para o Grande
Tang das Planícies Centrais?” Ashina Qiong perguntou. “Agora já não é como há
vinte anos. Eles podem não te ajudar.”
“O Khan Celestial prometeu
ao meu pai e à minha família”, disse A-Tai suavemente, levantando a mão para
dedilhar as cordas da cítara e produzindo uma série de sons claros.
“Posso convocar todos os
sassânidas para você”, disse Ashina Qiong, “você estiver disposto a liderá-los,
eu vivo para isso e, naturalmente, morrerei por isso. O filho do Sábio
Guerreiro Delan nunca teme.”
A-Tai não respondeu e saiu
do salão principal.
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Pouco tempo depois, Amman
começou a visitar com mais frequência, oficialmente para verificar se as
habilidades de Ashina Qiong realmente podiam proteger o Príncipe Tegla, mas, na
realidade, ele queria discutir com A-Tai o plano para restaurar o país.
Ashina Qiong naturalmente
não foi gentil com Amman, lutando sem piedade contra ele no jardim.
Até outro dia, a lendária
princesa da pradaria, a pérola do Crescente Fértil, filha de um mercador
incrivelmente rico, Turandokht, veio ao Templo de Bazin.
Ela estava com o rosto
coberto por um véu, suas joias tilintando enquanto caminhava rapidamente pelo
longo corredor, chegando à frente do Sumo Sacerdote.
“Ouvi dizer que ainda há
brasas da Chama Sagrada aqui. Deixe-me prestar meus respeitos”, disse
Turandokht suavemente.
Do lado de fora do pátio,
Ashina Qiong e Amman pararam seu duelo e olharam juntos para dentro do templo.
“As brasas já
desapareceram”, A-Tai fez uma oração e olhou para Turandokht de lado, dizendo,
“Mas a chama nunca se apagou, ela está dentro de cada coração.”
“Cem anos atrás”,
Turandokht sussurrou, “a Grande Sacerdotisa pediu à nossa família para
encontrar a relíquia do Rei Akele, dos Hu, para ela. Nós a encontramos e
trouxemos especialmente para você. Talvez já não tenha utilidade, mas
considerem como a realização de um desejo.”
Turandokht abriu a mão para
A-Tai, revelando quatro anéis de cores diferentes.
Ashina Qiong abaixou sua
arma e observou Turandokht em silêncio.
“Eu acho”, Amman disse com
um sorriso, “que teremos uma nova rainha.”
Ashina Qiong olhou para
Turandokht em silêncio. Ela levantou o véu para revelar seu rosto, enquanto
A-Tai olhava atentamente para seus olhos.
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Alguns anos depois, A-Tai
foi até o altar e de repente encontrou uma carta aparecendo do nada no altar
onde as brasas eram adoradas.
Isso o fez perceber que o
destino que sua shifu, a sacerdotisa, mencionou estava finalmente se revelando
para ele naquele momento.
“Qiong?!” A-Tai saiu
rapidamente com a carta na mão, incrédulo, “foi você quem colocou esta carta no
altar?”
Ashina Qiong pegou a carta
e olhou para as palavras: “Departamento de Exorcismo da Grande Tang” no
envelope com uma expressão perplexa.
“Então, neste mundo, o
chamado ‘destino’ realmente existe.”
⊱───────⊰⊹⊱✫⊰⊹⊱───────⊰
Ashina Qiong abaixou a taça
de vinho e sorriu. Ele franziu a testa e disse: “O vinho do Passo Yang não é
bom.”
Em meio ao vento e areia
soprando, A-Tai se apoiou na cítara e sentou-se do lado de fora do posto de
correio com Ashina Qiong.
Esta despedida estava
finalmente chegando ao fim.
“A chuva da manhã em
Weicheng umedece a leve poeira³—” A-Tai dedilhou a cítara e cantou em voz
baixa, “A pousada, serena e fresca, os salgueiros, renascidos pela primavera.”
Ashina Qiong olhou
fixamente para a expressão embriagada de A-Tai enquanto tocava a cítara.
Era uma canção que vinha do
oriente, mas, neste vasto deserto, não havia salgueiros nem chuva no Passo
Yang. Se houvesse pessoas da Grande Tang aqui, provavelmente lhes diriam que a
chuva matinal e a cor dos salgueiros se referem a Weicheng, na distante Chang’an—
Aquele lugar de prazeres
sensuais e de grande agitação e prosperidade—
Era um mundo novo que era
completamente diferente das Regiões Ocidentais.
“Eu aconselho você a beber
outra taça de vinho”, A-Tai cantou suavemente. “Deixando o Passo Yang no oeste,
não haverá velhos amigos…”
Ashina Qiong sorriu. Esta
foi a primeira vez que eles se separaram desde que se conheceram quando
crianças.
“Cuide-se na Grande Tang”,
disse Ashina Qiong. “Príncipe.”
“A situação que você
enfrentará é mais perigosa que a minha. Você tem que se cuidar”, A-Tai disse
seriamente olhando nos olhos de Ashina Qiong, “Cavaleiro.”
Ashina Qiong disse: “Eu não
vou morrer. Enquanto você estiver vivo, eu esperarei pelo seu retorno.”
“Então”, A-Tai respondeu
com um sorriso, “é um acordo.”
Ashina Qiong levantou a
mão, batendo-a na mão de A-Tai, depois montou em seu cavalo e partiu do Passo
Yang.
A-Tai se despediu de Ashina
Qiong e olhou para o oeste, seus olhos cheios de saudade. Ele então montou seu
cavalo e entrou no Passo Yang, seguindo ao longo da Rota da Seda em direção a
Shazhou, Passo Jiayu e Chang’an.
Em direção àquele mundo
vasto e distante, a chuva cai em Weicheng renovando todas as coisas.
—— · Fim·
——
⊱───────⊰✯⊱───────⊰
Notas:
1 天可汗, que pode ser traduzido como “Khan Celestial” ou
“Khan do Céu”, é um título honorífico utilizado durante a dinastia Tang na
China para se referir ao imperador. O título expressava a supremacia e
autoridade celestial do imperador sobre outros governantes, enfatizando seu
papel como líder supremo não apenas da China, mas também das regiões vizinhas e
tribos nômades. Este título refletia a visão dos imperadores Tang como
governantes universais, com um mandato divino para governar sob o céu.
2 普拉琴 (Pǔ lā qín): Este termo não é claro em chinês, mas
pode ser uma referência a um tipo de cítara ou um instrumento similar.
鲁特琴 (Lǔ tè qín): Esse é o nome chinês para o alaúde. O
alaúde é um instrumento musical de cordas que se originou no Oriente Médio e se
espalhou pela Europa na Idade Média e Renascença. Possui um corpo em formato de
pera e várias cordas que são dedilhadas.
琵琶 (Pípá): A pipa é um instrumento tradicional
chinês de cordas dedilhadas, com um corpo em forma de pêra e quatro ou cinco
cordas. É tocado com os dedos ou com palhetas, e é conhecido pelo seu som
melodioso e versatilidade.
3 渭城朝雨浥轻尘, é um verso de um famoso poema chinês chamado “送元二使安西” (Enviando Yuan Er para Anxi), escrito pelo
poeta da dinastia Tang, Wang Wei.
4 西出阳关,无故人 é um verso do poema “送元二使安西” (Enviando Yuan Er para Anxi) de Wang Wei. Esse verso expressa a melancolia da despedida, sugerindo que, ao deixar o Passo Yang e seguir para o oeste, a pessoa se afastará de amigos antigos e conhecidos.
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