Tradução: Foxita
Revisão: Miss Sw
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Capítulo 14 – O Cadáver Seco Sob a Cama
Ao meio-dia,
Hongjun chegou ao restaurante em que os quatro combinaram de se encontrar, um
lugar chamado “Carpa Saltando sobre o Portal do Dragão”. Hongjun ainda não
tinha se acalmado e disse, “Hoje... algo grande aconteceu!”
Qiu Yongsi, Mo
Rigen e A-Tai haviam acabado de se sentar e todos tinham expressões
desconcertadas enquanto acenavam para que ele se sentasse.
“Venha, venha,
venha, conte logo. O chefe ainda não chegou?”
“Ele levou o
gato de volta e falou para irmos comendo. Daqui a pouco ele vem explicar em
detalhes”, falou Hongjun.
“Ele realmente
o encontrou?”, Mo Rigen exclamou surpreso.
Os três se
entreolharam e então continuaram a fazer perguntas. Hongjun podia apenas contar
sobre os fatos de que tinha participado: do momento em que Li Jinglong voltou
ao Departamento de Exorcismo para deixar o gato; passando por quando rastrearam
o cadáver que tinham descoberto; até a ocasião em que foram ao Departamento
Judiciário verificar casos de pessoas desaparecidas, folheando um por um. Os
acontecimentos pareciam estar profundamente interligados e por isso deveriam
primeiro entender bem a situação.
“Vamos comer,
estou morrendo de fome.”
O garçom falou
os pratos, mas nenhum deles sabia o que era o quê. A-Tai vinha de longe e não
conhecia a variedade de comidas deliciosas de Chang’an; Mo Rigen era nascido
nas pradarias, então nunca tinha comido banquetes no estilo Tang e Hongjun
obviamente nunca tinha experimentado nenhuma daquelas comidas.
Qiu Yongsi
falou docilmente, “Vocês decidem, eu como qualquer coisa que escolherem”.
Todos estavam
confusos após ouvir os nomes dos pratos. Finalmente o yao carpa ficou
impaciente e fez os pedidos, abrindo e fechando a boca por detrás das costas de
Hongjun enquanto falava, “Seis tigelas de sopa de faisão negro; um prato de refogado
Qunxun[1]; frango ao vinagre com cebolinha; rolinhos recheados de quiabo
e repolho; quatro pratos do dia; seis tigelas de arroz Yuhuang Wangmu[2];
uma porção de gelo doce para depois do jantar e um jin de Lishan
Shaochun[3]. Para os pratos com peixe, não use carpa.”
“Quem?!”, o
rosto do garçom ficou branco como papel. “Quem está falando?!”
“Ventriloquismo!”,
encobriu Hongjun imediatamente.
“Vocês estão
em quatro, mas estão pedindo comida para seis?”, o garçom perguntou ao olhar
inconscientemente para o lugar vazio ao lado de A-Tai, seu rosto ainda tingido
por traços de pavor.
“Estamos
esperando alguém.”, falou Hongjun. “Talvez ele chegue depois dos pratos.”
“Carpas têm
muitas espinhas, quem iria comer isso?", o garçom falou consigo mesmo.
“O que você
disse?!”, o yao carpa atrás das costas de Hongjun ficou tão nervoso que
arregalou os olhos como se tivesse sido pessoalmente ofendido.
O garçom:
“???”
“Não é nada, pode
continuar o que estava fazendo”, falou Hongjun, rapidamente se livrando do
garçom.
Embora o
garçom ainda estivesse temeroso enquanto servia os pratos, em um instante, a
mesa ficou repleta de comida deliciosa e requintada. Hongjun prontamente percebeu
que as refeições que comeu na estrada sequer podiam ser consideradas comida se comparadas
com o banquete à sua frente. A sopa foi servida em tigelas de cerâmica que
imitavam bambu; o prato Qunxun vinha em uma agradável travessa de peixe e
cordeiro refogados juntos; o frango estava perfeitamente cozido, ao ponto de os
óleos saírem e deixarem a carne perfeitamente suculenta; o prato Yuhuang Wangmu
foi servido numa tigela com um ovo meio cozido sobre o arroz. A leve fragrância
penetrou suas narinas e os quatro humanos e o peixe começaram a esvaziar a mesa
como se estivessem respirando a comida.
“Zhao Zilong
já esteve em um restaurante de Chang’an antes”, falou Hongjun enquanto comia.
“Ainda bem que ele aprendeu muito lá.”
“Oh?”, Mo
Rigen sorriu e disse. “Como cozinheiro? Realmente não se pode julgar pela
aparência.”
“Como
ingrediente”, respondeu o yao carpa.
Todo mundo: “...”
Hongjun
acrescentou, “Ele primeiro foi vendido no mercado, depois levado de volta para
a loja e criado num tanque. Então, uma espécie de monge o comprou e o soltou e
ele conseguiu sobreviver até hoje.”
O yao
carpa estava cheio; enfiou a cabeça na taça e tomou uns goles de vinho, dando
passos vacilantes sobre a mesa e finalmente caindo de bêbado com um barulho
audível.
“Um brinde",
falou A-Tai. “Hoje é por minha conta, vamos brindar à nossa nova amizade e ao
chefe momentaneamente ausente...”
Os quatro
ergueram suas taças. Esta era a primeira vez, desde que ingressaram no
Departamento de Exorcismo, que se reuniam oficialmente para uma refeição de
comemoração. Na maior parte do tempo, Hongjun não estava com eles e, como os
outros três frequentemente estavam à toa, acabaram ficando bem próximos. Uma
vez mais, a conversa voltou ao assunto de Li Jinglong e Hongjun vagamente
respondeu algumas perguntas. No entanto, como ultimamente não vinha trabalhando
com Mo Rigen e os outros, ele estava agora bastante curioso sobre seus
companheiros.
“Meu pai me
fez vir para Chang’an”, Hongjun pensou sobre aquilo. Antes de partir em sua
jornada, foi instruído a não revelar muito sobre si e, agora, com Zhao Zilong
bêbado como um peixe[4], tinha medo de falar demais, então se
limitou a dizer, “Ele me mandou aqui para exorcizar todos os yaoguais em
Chang’an... aham.”
A-Tai sorriu e
disse, “Onde estão os yaoguais em Chang’an?”
Mo Rigen
também sorriu e disse, “Se não tem nenhum yaoguai, então o que viemos
fazer aqui?”
Hongjun disse,
“Mas o chefe disse que há yaoguais em Chang’an, eles apenas não aparecem
muito.”
Hongjun nunca
tinha bebido vinho antes, esta era sua primeira vez. Como não sabia direito o
que estava fazendo, bebeu como se fosse água. Mo Rigen e A-Tai pensaram que a
tolerância de Hongjun fosse alta e por isso o deixaram beber. De um jin de
Lishan Shaochun, Hongjun conseguiu acabar com metade. Seu cérebro estava
confuso e ele se sentia um pouco tonto, então deixou a cabeça cair de lado e
dormiu.
Não muito
tempo depois de Hongjun apagar de bêbado, Li Jinglong chegou. Ao vê-lo assim, ficou
enfurecido.
“Estamos no meio do
horário de trabalho, mas vocês estão todos aqui bebendo vinho?”, falou Li
Jinglong. “Até conseguiram embebedá-lo, isso...”
A-Tai se apressou
em falar. “Venha, chefe, venha; sente-se aqui! Hoje é por minha conta!”.
O rosto de Li
Jinglong estava profundamente carrancudo quando ele se sentou; ele não se
importou que a mesa estava cheia de sobras quando começou a engolir a comida já
fria. Os outros três se ocuparam de perguntar sobre o que tinha acontecido. Li
Jinglong respondeu e um a um eles pararam; o que estava bebendo chá, o que
estava bebendo vinho, e o que estava comendo doces, todos interromperam seus
movimentos e observaram Li Jinglong.
“Tinha um
cadáver embaixo da cama?”, perguntou Mo Rigen.
Li Jinglong
bufou pelo nariz e disse, “Finalmente interessado? Agora há pouco fui ao
Departamento Judiciário e perguntei, mas ninguém foi reportado como desaparecido
nesses últimos dias.”
“Isso não está
certo.”, A-Tai franziu o cenho. “Esconder um corpo embaixo da cama, qual
significado disso?”
Li Jinglong
respondeu calmamente, “Eu não tenho certeza se é da nossa jurisdição, eu ia
justamente encontrar com vocês para discutir...”
“Definitivamente
é um yaoguai!”, Mo Rigen respondeu de pronto.
“E ele ainda
não fugiu.”, Qiu Yongsi sorriu e seu sorriso parecia esconder algo.
“Por quê? Pode
explicar?”, Li Jinglong perguntou enquanto escolhia sem qualquer cuidado o que
comer, sua testa franzida.
A-Tai olhou
para Li Jinglong demoradamente antes de falar um momento depois, “Acho que eles
podem te contar.”
“Não, não,
você primeiro...”
“Você
primeiro, você primeiro...”
Os três
começaram a discutir, empurrando a tarefa uns para os outros, então Li Jinglong
levantou sua voz. “Chega!”
Um momento
depois, Mo Rigen falou, “O cadáver embaixo da cama apodreceria em poucos dias e
as pessoas eventualmente sentiriam o mau cheiro. No entanto, se o cadáver foi
especialmente desidratado antes de ser escondido... é um processo complicado,
algo que não se faz normalmente. É muito mais trabalhoso que apenas
enterrá-lo.”
“Então Jin Yun
está escondendo o cadáver para lançar algum tipo de magia yao?”, Li
Jinglong franziu o cenho.
Todos
carregavam expressões estranhas ao olhar para ele. Queriam rir, mas não se
atreveram. Li Jinglong achou aquilo desconcertante e perguntou, “Falei algo
errado?”
Qiu Yongsi
respondeu, “Uh... na verdade, chefe, acredito que a pessoa tenha sido instantaneamente
transformada em um cadáver seco para produzir esse tipo de efeito.”
Li Jinglong
imediatamente entendeu e murmurou, “Então é assim que acontece.”
“Ele deve ter
sido sugado pelo yaoguai,”, respondeu Mo Rigen. “Quando aconteceu, o yaoguai
não sabia o que fazer com o corpo, então o colocou embaixo da cama
totalmente ao acaso. Provavelmente foi isso.”
Li Jinglong
pensou bastante por um momento. A-Tai
olhou para os outros dois e disse, “Vamos fazer uma patrulha esta noite? Sempre
senti que havia algo errado com Pingkang Li; a raposa definitivamente expôs sua
cauda[5]”.
Qiu Yongsi
rapidamente lançou um olhar a A-Tai, alertando-o para não revelar muita coisa.
Li Jinglong
finalmente entendeu: aquela noite em que A-Tai e Qiu Yongsi foram ao bordel, tinha
sido para investigar o yaoguai.
“Há yaos
em Pingkang Li?”, Li Jinglong perguntou.
“Lá está
infestado com energia yao.”, Qiu Yongsi começou a rir enquanto falava.
“Os lugares com energia yao mais densa
são Pingkang Li, Palácio Daming e Palácio Xingqing.”
Por um bom
tempo, Li Jinglong ficou ali sentado sem dar um pio sequer.
Li Jinglong
passou bastante tempo pensando sobre o assunto. Ele deveria avisar os Exércitos
Shenwu e Longwu para cercar Yishi Lan e encontrar o corpo, ou deveria
primeiramente procurar o yao em segredo, sem levantar suspeitas? Considerando sua má sorte, se ele fosse prender
a pessoa chamada Jin Yun, ninguém acreditaria nele e isso na verdade somente
acabaria lhe causando problemas. Bem, ele também não esperava que cada um
daqueles poucos subordinados fosse tão entendido nestes assuntos.
“Então esta
noite terei que avaliar melhor suas habilidades", falou Li Jinglong.
“Xiongdi Hongjun
é capaz de pegar um yao pequeno sem problemas,” Mo Rigen falou e sorriu.
“O resto de nós vai apenas servir de apoio.”
À tarde,
trovejou quando começou a garoar novamente em Chang’an. Com passos rápidos, Li
Jinglong liderava, enquanto Mo Rigen carregava um embriagado Hongjun. Sob a
chuva fraca, eles correram de volta para o Departamento de Exorcismo com A-Tai
e Qiu Yongsi seguindo atrás. Pelas ruas, algumas jovens mulheres procuravam
abrigo da chuva. Elas cochicharam e apontaram para o grupo quando eles
passaram, chamando as amigas para dar uma olhada.
Li Jinglong
era alto e bonito; Mo Rigen era esguio e tinha belas feições; A-Tai era tão
lindo quanto uma pérola; Qiu Yongsi era esbelto e Hongjun, nas costas de Mo
Rigen, tinha um rosto incomparavelmente lindo, como jade branca. Hongjun também
carregava um peixe salgado nas costas... não, uma carpa.
As jovens mulheres
seguiram correndo atrás do grupo e Mo Rigen virou a cabeça para olhar, ao tempo
em que A-Tai falou, “Ai, isso é realmente angustiante. Em todo lugar que vamos
sempre tem esse monte de gente nos seguindo... Vamos rápido, pessoal.”
Mais tarde,
eles se reuniram no salão principal ouvindo o barulho da chuva. Li Jinglong
havia amarrara o gato a uma pilastra com uma corda; ele miou algumas vezes, esforçando-se
para colocar a cabeça para fora e tentando escapar da corda. Algo urgente tinha
acontecido hoje, então Li Jinglong decidiu adiar a devolução do gato para o dia
seguinte.
O yao
carpa permanecia imóvel, deitado no quintal tomando chuva.
Hongjun estava
caído de lado na mesa do salão e, enquanto Li Jinglong retirava todos os
registros de casos da época de Di Renjie, os outros três pareciam ter alcançado
um acordo tácito. Cada um pegou alguns registros e começou a investigar o
yaoguai que se escondia em Pingkang Li.
Todavia, enquanto
analisavam os registros de Di Renjie, perceberam que, embora houvesse vários
arquivos sobre yaos, a maioria se referia a Luoyang, a capital divina. Havia
pouquíssimos registros posteriores à transferência da capital para Chang’an pelo
imperador.
“Qual yao
pode sugar a energia de uma pessoa para fins de cultivo?”, perguntou Li
Jinglong.
“Vários
deles," Mo Rigen abaixou a cabeça para analisar o pergaminho e falou
casualmente, “Raposas, cobras, flores, pinturas...”
A-Tai
interveio, “Talvez este não seja o caso. E se o corpo for apenas o amante de
Jin Yun?”
Todos
imediatamente se arrepiaram e Qiu Yongsi falou, “Sem chance! A-Tai, você curte
esse tipo de
coisa?!”
“Preferia que
fosse um yao", riu A-Tai.
Li Jinglong de
repente falou, “Pessoal, vocês todos vieram se apresentar ao Departamento de
Exorcismo ao mesmo tempo?”
“Nós chegamos
quase ao mesmo tempo,” A-Tai respondeu com um sorriso.
“Por que sinto
como se todos vocês já se conhecessem há muito tempo?", falou Li Jinglong.
Todos pararam
de falar novamente. Alguns momentos depois, enquanto observava a reação do
grupo,
Li Jinglong acrescentou casualmente, “Peço que continuem me orientando, principalmente
esta noite.”
Os três
concordaram com a cabeça e Li Jinglong olhou na direção de Hongjun, que ainda
estava
bêbado. Mo Rigen estendeu a mão e o chacoalhou gentilmente, chamando,
“Hongjun?”
Eles temiam que
Hongjun continuasse bêbado até a noite e tentaram acordá-lo, mas o yao
carpa do lado
de fora despertou primeiro. Ele se levantou trêmulo, obviamente
ainda um pouco embriagado, e piscou
algumas vezes dizendo, “Nós
voltamos? Hm...”
O yao
carpa seguiu pelo corredor, cambaleando para frente e pra trás. O gato se
animou ao vê-lo e, com um forte puxão, soltou-se do laço que estava preso em
volta do seu pescoço, saltando na direção do peixe. O yao carpa ficou
momentaneamente atordoado, olhou para o gato-leão e, sendo acometido pelo
terror, berrou, “Socorro! O gato fugiu!”
Esse pequeno
susto foi diferente do de antes e até Hongjun acordou com a barulheira. Todos
viram o gato que tinha dado tanto trabalho para ser pego prestes a fugir e se
apressaram em tentar apanhá-lo. Li Jinglong gritou furiosamente, “Venham para o
salão!”
Antes, por
medo de que o gato acabasse estrangulado, Li Jinglong não amarrou a coleira
muito apertada – mas ele nunca imaginaria que o animal iria fugir daquele jeito.
O yao carpa correu para dentro e o gato o seguiu, enquanto Hongjun
gritava, “Rápido, fechem as portas!”
O resto deles
imediatamente bateu as portas com força. O yao carpa estava tão
assustado que quase se mijou enquanto se escondia de seu predador em qualquer
canto. Hongjun o orientou a ficar parado, mas o pavor de seu inimigo natural
havia vencido qualquer lógica em seguir aquelas ordens. Ele correu
descontroladamente, primeiro saltando em alguns arquivos de casos, depois
pulando sobre a mesa e, com um salto voador e um forte impulso alimentado pelo
medo, com um som parecido com o de uma flecha voando pelo ar, pulou para cima
do armário.
Logo depois,
A-Tai e Mo Rigen saltaram para o meio, mas o gato-leão era muito ágil e com
dois movimentos conseguiu seguir o yao carpa até em cima do armário.
Li Jinglong de
repente percebeu um sério problema. Ele apoiou um pé na parede e estava prestes
a saltar para ajudar, mas já era tarde demais.
O yao
carpa berrou “minha nossa”, e saltou de volta para baixo, voando para os braços
de Li Jinglong. Assim que se virou para segui-lo, o gato-leão derrubou a caixa
cheia de pólen de Lihun.
Com todos
assistindo, a caixa com pólen de Lihun fez um trajeto em linha reta diretamente
de cima do armário até a cabeça de Hongjun e, com um som suave, o recipiente se
abriu, preenchendo o ambiente com pólen.
Todo mundo: “...”
As portas e
janelas estavam fechadas e assim que o pólen se dispersou pelo ar, simultaneamente
todos soltaram espirros de tremer a terra, e continuaram a espirrar
ininterruptamente.
“Atchim–!”
“Atchim!”
“Atchim! Atchim! Atchim! Atchim!
A-tchim!”
“Atchim!”
A-Tai, Mo
Rigen, Qiu Yongsi, Hongjun e Li Jinglong espirravam descontroladamente e os
espirros vinham um após o outro. Os cinco ficaram primeiramente surpresos e
então confusos; permaneceram parados no salão com as mentes embaralhadas e se
viraram desorientados.
“O que
aconteceu?”, perguntou Hongjun atordoado. “Atchim!”
A-Tai: “Quem
sou eu? Atchim!”
Mo Rigen:
“Isso... vocês todos... onde estou? Atchim!”
Qiu Yongsi:
“Atchim! Espere, este xiongtai aqui? Atchim!”
Até mesmo o
gato-leão espirrava sem parar – ele via o yao carpa e seus olhos se
iluminavam de esperança, mas então ele espirrava e voltava a ficar totalmente atordoado.
Todos tinham a impressão passageira de que as coisas estavam estranhas, mas logo
voltavam para um estado de feliz ignorância, espirrando sem parar.
“Nós devíamos
sair... atchim!”, Li Jinglong soltou um espirro violento enquanto o yao
carpa desceu com um salto e correu para abrir a porta.
O nariz do yao
carpa era útil apenas na água e suas narinas eram muito pequenas, então
normalmente as mantinha bloqueadas. Como consequência, não tinha sido afetado
e, vendo que o gato não o estava perseguindo naquele momento, se apressou para
abrir a porta com toda sua força.
“Rápido,
saiam!”, gritou o yao carpa.
Enquanto
oscilava entre confusão e lucidez, Hongjun sentiu que havia algo gritando com
ele, então cambaleou para fora e se juntou aos gritos. Todos os outros
lentamente conseguiram sair, um por um.
A cabeça de
Hongjun girava. Ele olhou para o yao carpa, então novamente para Li
Jinglong e os outros, dando o seu melhor para se lembrar de algo, mas seu
cérebro estava tomado pelo caos. Naquele momento, o gato pulou para fora, sem
saber para onde ir, e o yao carpa orientou, “Hongjun! Pegue ele,
rápido!”
Hongjun
inconscientemente estendeu a mão e agarrou o gato. O yao carpa pegou uma
pequena escova com pazinha para limpar o pólen de Lihun espalhado do lado de
dentro.
“O que acabou
de acontecer?”, perguntou Li Jinglong.
Os outros
quatro se entreolharam, todos com expressões vazias no rosto. Não muito tempo
depois, com um estalo mental, A-Tai se lembrou e disse, “Você é o chefe
Li!”
“Ah!”, falou
Li Jinglong, “Isso, isso; sou Li Jinglong e este é o Departamento de
Exorcismo.”
“Sim, sim!”,
todos agiam como se tivessem acabado de despertar de um sonho enquanto concordavam
apressadamente com a cabeça. Hongjun abraçou o gato e perguntou confuso, “Mas
por que estou segurando um gato?”
“Miau?”, o
gato-leão olhou furtivamente para os lados.
“O que... nós estávamos
fazendo?”, perguntou Li Jinglong.
Pontos de
interrogação pareciam pairar sobre a cabeça de todos. Mo Rigen se virou
lentamente, assimilando a cena no quintal, então disse, “Acho que lembro que
todos viemos ao Departamento de Exorcismo nos apresentar para trabalhar”
“Nós já nos
apresentamos, certo?”, falou Qiu Yongsi. “Por que eu sinto que todos já nos
conhecemos. Esta não é a primeira vez que nos vemos?”
Li Jinglong
falou, “Precisamos ficar calmos; alguma coisa deve ter acontecido agora há
pouco...”
Do lado de
dentro, o yao carpa tinha varrido todo o pólen em uma pilha e, enquanto o
guardava em uma bolsa do tamanho da palma de uma mão, falou, “Vocês todos
respiraram pólen de Lihun.”
“Sim, sim!”,
todos se lembraram e assentiram. Agora eles quase conseguiam relacionar causa e
efeito.
Meio shichen
depois, todos tinham gradualmente se recordado de algumas coisas, mas o mais
importante é que tinham esquecido o que estavam fazendo antes de cheirar o
pólen de Lihun. Li Jinglong e seus subordinados, cada um com a mão no queixo,
estavam sentados no salão principal quebrando a cabeça.
Hesitante, o yao
carpa narrou em termos gerais os eventos que envolveram a captura do gato, mas
em relação a todo o resto, ele não fazia ideia do que tinha acontecido. Então, o complicado problema que tinham que
enfrentar era “não é possível se lembrar do que já foi esquecido”.
Preso na jaula,
o gato encarava faminto o yao carpa, mas não conseguia sair.
“O que
aconteceu exatamente?”, perguntou Li Jinglong franzindo o cenho.
“Talvez estivéssemos
apenas tomando chá?”, falou Qiu Yongsi.
“Não, não era
isso.”, Li Jinglong disse para si mesmo. “Se estávamos apenas tomando chá, por
que tem tantos pergaminhos sobre a mesa? Isso é estranho; devíamos estar trabalhando em um caso
importante agora há pouco.”
“Antes, quando
estávamos pegando o gato, Hongjun e eu nos escondemos embaixo da cama...”
“Depois que
bebi a água para lavar pés...”
Todos estavam
quebrando a cabeça ao pensar e Li Jinglong tentou analisar os acontecimentos a
partir de seus pedaços de memória fragmentada.
Hongjun murmurou para si mesmo, ainda tentando se lembrar quem ele era e
de onde viera. Aos poucos, começou a se lembrar que era do Palácio Yaojin e
vários detalhes de sua infância vieram à tona de uma única vez. Após um curto
período de esquecimento, ele se lembrou de Chong Ming e até mesmo se lembrou da
primeira vez que o encontrou.
Hongjun deixou
escapar um suspiro. Quando estava prestes a falar, lembrou-se de um estranho
conjunto de memórias. A voz de Li Jinglong começou a soar cada vez mais
distante, até desvanecer.
Sob a intensa
luz do sol e sob as sombras das folhas da árvore de guarda-sol, Hongjun sentiu
que aquela cena parecia estranhamente irreal, como se tudo fosse um sonho
criado pelos raios solares que corriam em linha reta. Neste sonho, sua
consciência ficava mais e mais distante e, num redemoinho, o tempo retrocedeu
levando-o de volta àquela tarde no Palácio Yaojin.
Inúmeras
sombras dispararam para trás num piscar de olhos e ele se encontrou paralisado
em um dia do passado.
“Hongjun disse
que vocês encontraram uma pessoa morta embaixo da cama...”
“Uma pessoa
morta?”
Em um segundo
todos se sobressaltaram, encarando fixamente o yao carpa. Ele contou a
série de eventos, descrevendo tudo o que tinha visto acontecer no quarto.
No entanto, as
pupilas de Hongjun continuaram a se contrair. Depois de cheirar o pólen de
Lihun, ele foi subitamente lembrado daquela noite no Palácio Yaojin, em que a
primeira coisa que viu ao abrir os olhos foi a lágrima que escorria do canto do
olho de Chong Ming.
Nesse momento,
a memória recuou tão rápido quanto veio, retornando para a escuridão. Ele
estava parado em meio às ruínas, olhando ao redor inexpressivo.
“...Eu só
tenho esta criança...”
A voz de um
homem estranho ressoou próxima de seu ouvido.
✦✦✦
Notas de
tradução:
[1] Refogado
Qunxun: peixe e cordeiro refogados.
[2] Yuhuang
Wangmu (Arroz Mãe Rainha Real Amarelo): carne e/ou ovos
cozidos sobre o arroz; parecido como o lu rou fan (refogado de arroz e porco)
da culinária de Taiwan, mas com alguns sabores diferentes.
[3] Lishan
Shaochun: um vinho específico; um tipo de baijiu (licor
chinês límpido e incolor, geralmente com teor alcoólico entre 35% e 60%).
[4] Um provérbio
parodiado pelo autor: 不省人事, “[um humano] está inconsciente” para 不省鱼事, “um peixe está inconsciente”. Na tradução para o inglês, parodiaram a expressão "bêbado como um gambá" (drunk as a skunk) para "bêbado como um peixe" (drunk as a fish).
[5] “A raposa
mostrou sua cauda”: expusemos algum tipo de trama.
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