domingo, 28 de junho de 2020

[Novel] Tianbao Fuyao Lu - Capítulo 002



Oi, pessoal. Chegando finalmente o segundo capítulo de TBFYL. A demora, além de ter sido influenciada pelos outros projetos em andamento, também teve influência no fato de eu ter me engajado em ler essa novel até o fim (do chinês mesmo, com a ajudinha do tio Google), a fim de ter uma melhor compreensão dos fatos e assim poder traduzir de forma mais coerente pra vocês. Então, sem mais delongas, vamos ao capítulo~


Tradução: Miss Sw
Revisão: Mahoutsukai


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Capítulo 002: Vestígios dos Velhos Tempos
[Imagem oficial do manhua]

Qing Xiong casualmente agarrou Hongjun e o retirou de suas costas, depois lhe fez um pouco de cócegas. Hongjun começou rir calorosamente. Qing Xiong o mandou ficar de pé adequadamente e perguntou, “Causou problemas de novo?”
A mão de Hongjun estava coberta de poeira, que foi espalhada pelo rosto do outro. Vendo como a aparência alheia estava engraçada, Hongjun só conseguiu apontar para ele e rir sem restrições. Qing Xiong ficou confuso, então Hongjun começou a explicar em detalhes vívidos. Após saber sobre como Chong Ming tinha perdido a compostura, ele não pôde evitar rir também. 
Ambos riram por um bom tempo antes de Hongjun dizer severamente, “O que você trouxe pra mim dessa vez? Me dê!”
Qing Xiong respondeu, “Não tenho nada.”
Hongjun não acreditou, então foi procurar pelo corpo alheio. Qing Xiong geralmente ficava desnudo até a cintura, então só tinha dois bolsos onde poderia guardar coisas. Hongjun se recusou a desistir e tentou pescar algo deles, mas Qing Xiong replicou solenemente, “Eu realmente não tenho nada.”
“Nem livros, e nem comida também.” Hongjun ficou de cara amarrada. 
Qing Xiong riu. “Eu te trouxe algumas lendas da última vez, já terminou de ler?”
Hongjun respondeu, “Já folheei tanto que elas estão desgastadas agora.”
Ao ver o rosto de Hongjun cheio de desapontamento, Qing Xiong não conseguiu evitar a vontade de provocá-lo e questionou de novo, “Cadê seu familiar Zhao Zilong?”
“Está aqui.” Hongjun chamou, então o yao carpa saltou para perto. Cinco anos atrás, ele inadvertidamente encontrou nas Montanhas Taihang essa carpa meio-humana cuja tentativa de se tornar um homem foi um fracasso, então começou a cuidar dela. Mais tarde, Qing Xiong lhe trouxera algumas lendas sobre os Heróis dos Três Reinos. Hongjun ficou empolgado e deu ao yao carpa o nome “Zhao Zilong”, e até anunciou que ele saltaria do Portal do Dragão e se transformaria em um dragão dourado[1]
Qing Xiong pegou algo como se estivesse performando um truque de mágica. Ele segurava entre os dedos uma corrente, da qual pendia um tesouro, e balançou diante de Hongjun para que ele visse.
“O que é isso?!” Hongjun pronunciou surpreso.
Aquele tesouro era muito pequeno e delicado — era um pingente conectado a uma corrente de ouro. O pingente era feito de lápis-lazúli rodeado por camadas de metal. Havia uma bola de cristal excepcionalmente pequena no meio, dentro da qual estava uma luz fracamente perceptível, como se fosse uma lâmpada. Quando Qing Xiong entregou o pingente, o pátio se iluminou também. Seu esplendor não era nem um pouco inferior ao sol ardente no céu.
“Vou deixar isso aos seus cuidados primeiro.” Qing Xiong colocou o pingente na palma de Hongjun. Ele enrolou a corrente dourada e sorriu enquanto dizia, “Não ouso mais te ensinar descuidadamente como usar tesouros mágicos, senão eu serei repreendido por seu pai.” 
Depois de ganhar esse delicado brinquedo, Hongjun imediatamente quis estudá-lo em detalhes, então assentiu. Qing Xiong incitou novamente, “Você não deve quebrá-lo. Esse cristal é muito frágil, vou te dizer como usar depois.”
Hongjun respondeu apressado antes de sair com o colar na mão.
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“Ele já tem dezesseis anos.” 
Quando Qing Xiong entrou no salão do palácio secundário, Chong Ming estava tomando chá. Qing Xiong sentou-se em frente à mesa e o encarou.
“Ele causou problemas de novo hoje e foi severamente punido por mim.” Chong Ming falou indiferentemente.
Qing Xiong replicou, “Os jovens têm tendência a causar problemas. No passado, você, Kong Xuan e eu fazíamos isso com frequência também.”
Chong Ming ergueu uma sobrancelha e disse, “Ele não está pronto ainda.” 
Qing Xiong respondeu, “Recebi essa carta ontem à noite. Foi enviada pelo Departamento de Exorcismo no mundo humano. Faltam menos de quatro anos até Mara aparecer nesse mundo outra vez. A carta é um chamado pra jovens talentos retornarem a Chang’an, e pelo que suponho, devem estar fazendo isso em preparação ao ressurgimento de Mara daqui a quatro anos...”
Qing Xiong entregou uma carta a Chong Ming, que sequer lançou um único olhar para ela. Ele esfregou os dedos e uma abrasadora bola de chamas explodiu da ponta do seu dedo que apontava para a carta. Qing Xiong não estava disposto a queimá-la, então a puxou de volta.
“Chong Ming, os yaos estão saindo do controle no mundo, atualmente. Os talentos da Tang estão em declínio, não há tempo suficiente.” 
Chong Ming virou a cabeça de lado para olhar diretamente dentro dos olhos de Qing Xiong, então anunciou cada palavra com clareza, “Não esqueça, somos yaos também.”
“Você ainda se lembra?” Qing Xiong falou, “Achei que tinha esquecido há muito tempo, Vossa Majestade, Rei Yao.”
Chong Ming emanou um ar formidável, como se houvesse chamas furiosas ardendo vivamente dentro de seu corpo. Suas sobrancelhas se franziram profundamente, parecendo furiosas enquanto ele encarava Qing Xiong diretamente.
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No escritório, Hongjun primeiro tentou abrir o pingente com duas facas de arremesso, depois cortar com algumas tesouras, mas ainda foi incapaz de desmontar as engrenagens metálicas externas. No final, ele bateu com um martelo, e mesmo depois de martelar tanto ao ponto de sua testa estar pingando de suor, ainda não conseguiu remover o pequeno cristal do pingente.
“AAAHHHHH–” Hongjun pegou uma garrafa de bronze e quis esmagar o pingente com ela.
“Por que está lutando com isso?” O yao carpa perguntou de um lado, “Sua Majestade Qing Xiong te avisou antes pra não quebrar.”
“Só quero remover.” Hongjun disse, “E depois colocar no cabo da minha faca.” 
“A luz dentro dele definitivamente é fora do comum.” O yao carpa escalou a mesa e pisou em um livro, depois se deitou sobre a barriga. A resplandecente luz do pingente se refletia nos olhos do peixe.
“Tem um círculo de encantamentos do lado de fora.” Hongjun estudou o objeto enquanto dizia, “O que raios é isso? É pra selar o pingente? Essa luz é tão confortável.”
“Sinto calor só de olhar pra ela.” O yao carpa falou, “E me sinto muito melhor.”
Hongjun pegou o colar, “Vamos perguntar a Qing Xiong.” 
“Seu castigo não acabou ainda!” o yao carpa o lembrou, mas Hongjun já tinha saído animadamente com o pingente.
O sol poente, na cor vermelho sangue, passava sobre as montanhas; o gorjeio das aves viajava em ondas dos picos da montanha banhados pelo crepúsculo.
Quando Hongjun veio para o palácio secundário, subitamente ouviu os sons de uma disputa furiosa ressoando dentro do salão. Ele ficou assustado e se escondeu por trás de um pilar.

“Aquele jiao negro[2] não ganhou sua posição por meios adequados, ele nunca será o Rei Yao! Ele não passa de um réptil vindo de uma sarjeta, como poderia ser digno?!”
“Mas nós perdemos a guerra, essa é a verdade incontestável!” Qing Xiong disse em voz baixa, “A menos que a gente volte lá e o destrua completamente, quando Mara reviver e comandar os yaos, o mundo humano vai mergulhar no abismo da miséria!”
“O que tem a ver comigo se eles caírem no abismo da miséria?!” Chong Ming explodiu, “Os humanos desconsideram a moral ao menor sinal de lucro e são todos um bando de ingratos! Eles tomaram Lao San[3], depois jogaram o filho dele com alguma humana pra que eu criasse por 12 anos! Por que tenho que criar um órfão que tem sangue humano correndo nas veias?!”
“Ele ainda é filho de Kong Xuan!” A voz de Qing Xiong soou baixa, seu tom de reprovação era óbvio. “Quando Kong Xuan morreu, você não sentiu nem um pouco de remorso?!” 
“Que remorso eu poderia sentir?!” Chong Ming estava praticamente rugindo, “Se não fosse por aquela pessoa ter causado a morte de Kong Xuan, Hongjun teria que ser uma criança sem pai ou mãe agora?!”
“Há humanos ingratos que desconsideram a moral por lucro, mas também há os que são amigos, como Di Renjie.”
“Amigos?!” Chong Ming riu debochado. “Ele não faria nada pelos humanos! Definitivamente!”
A voz de Qing Xiong estremeceu, “Kong Xuan era um dos Demônios Sagrados. Hongjun herdou sua Luz Sagrada Pentacromática, ele pode erradicar o jiao negro para os yaos, se vingar pelo pai e destruir o Mara ressuscitado. Além disso, se você o fizer ficar aqui por toda a vida, ele vai descobrir a verdade mais cedo ou mais tarde!” 

“No dia em que deixei as Planícies Centrais...” Chong Ming pronunciou em voz baixa, “Eu disse que não iria mais me importar se os yaos viviam ou morriam. Quanto a Mara? Espero que Mara reviva assim que possível, e depois mate todos aqueles humanos malditos!”
“Você não pode ser um pouco mais honesto, Chong Ming!” Qing Xiong de repente avançou um passo. Uma aura imponente irrompeu de seu corpo, e subitamente o palácio secundário foi preenchido com um ar ameaçador. Enquanto os dois se confrontavam, as xícaras de chá na mesa tremiam constantemente, emitindo tinidos suaves, e os painéis da janela vibravam também.
De repente, passos puderam ser ouvidos do lado de fora. Qing Xiong e Chong Ming suprimiram suas auras imponentes ao mesmo tempo e viraram suas cabeças abruptamente. 
Qing Xiong deu alguns passos para o seguir, mas tudo o que viu foram as costas de Hongjun.

“Quando Kong Xuan partiu, se você tivesse dito só uma palavra pra pedir que ele ficasse, as coisas estariam assim hoje em dia?” Qing Xiong suspirou. “As últimas palavras que você disse a ele foram 'suma daqui', e dali em diante, os vivos e os mortes estão pra sempre separados pelos céus.”
Após falar, Qing Xiong saiu o palácio secundário, deixando Chong Ming sozinho para encarar o crepúsculo do lado de fora da porta e então cair silenciosamente em um torpor. 
À noite, o céu estava preenchido com estrelas e o estrelado rio no pico das Montanhas Taihang se assemelhava a uma cascata.
Passos podiam ser ouvidos de longe, mas Hongjun não se moveu um centímetro sequer, deitado em um pedaço de rocha plana no Penhasco Sacrificial. A rocha era inclinada em direção ao precipício; se alguém fosse descuidado, poderia escorregar para o abismo sem fundo a qualquer momento.
Qing Xiong escalou e se deitou ao lado de Hongjun. Ambos ficaram silenciosamente perdidos em pensamentos enquanto encaravam o brilhante e estrelado céu noturno. 
“É verdade?” Hongjun perguntou subitamente.
“Se isso é verdade ou mentira, você já sabe a resposta em seu coração.” Qing Xiong respondeu.
Hongjun não pôde evitar ofegar, mas Qing Xiong ergueu a mão e a estendeu para fechar seus olhos. Hongjun agarrou a mão alheia e enxugou as lágrimas nela.
“Meu pai me odeia?” Hongjun engasgou enquanto soluçava. 
“O que ele fala geralmente é diferente das coisas que ele pensa.” Qing Xiong disse em transe, “Não o culpe pelo que ele diz. Se realmente não estivesse disposto, ninguém no mundo seria capaz de forçá-lo. Você ainda tem o que te dei hoje?”
Hongjun retirou o colar enquanto tremia.
“Você não queria ir ao mundo humano?” Qing Xiong pegou o pingente. A luz gentil dentro da peça iluminou metade da montanha em um instante em sintonia com o esplendor das estrelas que enchiam o céu. Sob aquela luz, Hongjun se acalmou gradualmente.
“Toda vez que venho, você faz um escândalo pra que eu te leve pra lá. Você já está crescido agora,” Qing Xiong continuou, “Quero dizer, sim, vai. Por que ter medo?” 

Hongjun primeiro ficou eufórico, e imediatamente depois pensou em Chong Ming e sua expressão ficou tristonha de novo. Ele encarou o outro em um torpor.
Qing Xiong se virou para a brilhante luz do pingente ao murmurar, “Há muitas coisas pra comer no mundo humano, e muitas coisas divertidas pra fazer também. Há belas damas, amigos com quem beber, músicas que podem viajar por dez li[4] de distância, lâmpadas que nunca se apagam, seja dia ou noite. Apenas vá. Vá pro ilimitado mundo dos mortais. Você não vai se arrepender.”
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No dia seguinte, o palácio secundário tinha sido limpo.
Hongjun adentrou o salão. Os três tronos tinham sido levados para lá — Chong Ming estava sentado no do meio enquanto Qing Xiong ocupava o da esquerda. A expressão de Chong Ming era indiferente como sempre. Hongjun chamou, “Pai”, então ficou todo certinho em um canto.
“Eu não sou seu pai.” No trono, a voz de Chong Ming ainda parecia não ter sentimentos.
Hongjun estava parado, sentindo-se um pouco inquieto. Ele respondeu, “É sim, você é meu pai.” Mesmo assim o olhar de Chong Ming se desviou e pousou no terceiro trono vazio. 
“O nome do seu pai é ‘Kong Xuan’.” Chong Ming pronunciou em tom profundo, “Assim como eu e Qing Xiong, ele é um dos mestres do Palácio Yaojin. Você me perguntou antes quem ocupava o último trono, e agora posso te responder. Quem podia sentar nesse trono era o seu pai biológico. Depois que ele morreu, Qing Xiong te trouxe pro Palácio Yaojin. Agora que você cresceu, é hora de voltar.”
“Eu vou voltar pra onde?” Hongjun perguntou.
“Pro lugar de onde você veio.” Chong Ming disse levemente. 
“Meu lugar é aqui.” Hongjun adicionou, “Não vou a lugar algum.”

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Notas de tradução:
[1] “saltaria do Portal do Dragão e se transformaria em um dragão dourado”: Isso faz parte de uma fábula chinesa.
[2] Jiao (ou jiaolong): é um dragão da mitologia chinesa, geralmente definido como “dragão escamoso”, sem chifres (de acordo com alguns estudiosos) e que dizem ser aquático ou ribeirinho (que vive nas margens de rios). No entanto, há uma clara distinção entre “jiaos” e “dragões” no chinês, sendo os jiaos geralmente vistos como inferiores.
[3] Lao San: uma forma comum de se referir aos irmãos, sendo que o “San” aqui significa “terceiro”.
[4] Li: Medida de comprimento equivalente a 500 metros.

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