Oi, pessoal. Chegando finalmente o segundo capítulo de TBFYL. A demora, além de ter sido influenciada pelos outros projetos em andamento, também teve influência no fato de eu ter me engajado em ler essa novel até o fim (do chinês mesmo, com a ajudinha do tio Google), a fim de ter uma melhor compreensão dos fatos e assim poder traduzir de forma mais coerente pra vocês. Então, sem mais delongas, vamos ao capítulo~
Tradução: Miss Sw
Revisão: Mahoutsukai
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Capítulo 002:
Vestígios dos Velhos Tempos
[Imagem oficial do manhua] |
Qing Xiong casualmente agarrou Hongjun e o retirou de suas
costas, depois lhe fez um pouco de cócegas. Hongjun começou rir calorosamente.
Qing Xiong o mandou ficar de pé adequadamente e perguntou, “Causou problemas de
novo?”
A mão de Hongjun estava coberta de poeira, que foi espalhada
pelo rosto do outro. Vendo como a aparência alheia estava engraçada, Hongjun só
conseguiu apontar para ele e rir sem restrições. Qing Xiong ficou confuso,
então Hongjun começou a explicar em detalhes vívidos. Após saber sobre como
Chong Ming tinha perdido a compostura, ele não pôde evitar rir também.
Ambos riram por um bom tempo antes de Hongjun dizer
severamente, “O que você trouxe pra mim dessa vez? Me dê!”
Qing Xiong respondeu, “Não tenho nada.”
Hongjun não acreditou, então foi procurar pelo corpo alheio.
Qing Xiong geralmente ficava desnudo até a cintura, então só tinha dois bolsos
onde poderia guardar coisas. Hongjun se recusou a desistir e tentou pescar algo
deles, mas Qing Xiong replicou solenemente, “Eu realmente não tenho nada.”
“Nem livros, e nem comida também.” Hongjun ficou de cara
amarrada.
Qing Xiong riu. “Eu te trouxe algumas lendas da última vez, já
terminou de ler?”
Hongjun respondeu, “Já folheei tanto que elas estão
desgastadas agora.”
Ao ver o rosto de Hongjun cheio de desapontamento, Qing Xiong
não conseguiu evitar a vontade de provocá-lo e questionou de novo, “Cadê seu
familiar Zhao Zilong?”
“Está aqui.” Hongjun chamou, então o yao carpa saltou para
perto. Cinco anos atrás, ele inadvertidamente encontrou nas Montanhas Taihang
essa carpa meio-humana cuja tentativa de se tornar um homem foi um fracasso,
então começou a cuidar dela. Mais tarde, Qing Xiong lhe trouxera algumas lendas
sobre os Heróis dos Três Reinos. Hongjun ficou empolgado e deu ao yao carpa o
nome “Zhao Zilong”, e até anunciou que ele saltaria do Portal do
Dragão e se transformaria em um dragão dourado[1].
Qing Xiong pegou algo como se estivesse performando um truque
de mágica. Ele segurava entre os dedos uma corrente, da qual pendia um tesouro,
e balançou diante de Hongjun para que ele visse.
“O que é isso?!” Hongjun pronunciou surpreso.
Aquele tesouro era muito pequeno e delicado — era um pingente
conectado a uma corrente de ouro. O pingente era feito de lápis-lazúli rodeado
por camadas de metal. Havia uma bola de cristal excepcionalmente pequena no
meio, dentro da qual estava uma luz fracamente perceptível, como se fosse uma
lâmpada. Quando Qing Xiong entregou o pingente, o pátio se iluminou também. Seu
esplendor não era nem um pouco inferior ao sol ardente no céu.
“Vou deixar isso aos seus cuidados primeiro.” Qing Xiong
colocou o pingente na palma de Hongjun. Ele enrolou a corrente dourada e sorriu
enquanto dizia, “Não ouso mais te ensinar descuidadamente como usar tesouros
mágicos, senão eu serei repreendido por seu pai.”
Depois de ganhar esse delicado brinquedo, Hongjun
imediatamente quis estudá-lo em detalhes, então assentiu. Qing Xiong incitou
novamente, “Você não deve quebrá-lo. Esse cristal é muito frágil, vou te dizer
como usar depois.”
Hongjun respondeu apressado antes de sair com o colar na mão.
_
“Ele já tem dezesseis anos.”
Quando Qing Xiong entrou no salão do palácio secundário, Chong
Ming estava tomando chá. Qing Xiong sentou-se em frente à mesa e o encarou.
“Ele causou problemas de novo hoje e foi severamente punido
por mim.” Chong Ming falou indiferentemente.
Qing Xiong replicou, “Os jovens têm tendência a causar
problemas. No passado, você, Kong Xuan e eu fazíamos isso com frequência
também.”
Chong Ming ergueu uma sobrancelha e disse, “Ele não está pronto
ainda.”
Qing Xiong respondeu, “Recebi essa carta ontem à noite. Foi
enviada pelo Departamento de Exorcismo no mundo humano. Faltam menos de quatro
anos até Mara aparecer nesse mundo outra vez. A carta é um chamado pra jovens
talentos retornarem a Chang’an, e pelo que suponho, devem estar fazendo isso em
preparação ao ressurgimento de Mara daqui a quatro anos...”
Qing Xiong entregou uma carta a Chong Ming, que sequer lançou
um único olhar para ela. Ele esfregou os dedos e uma abrasadora bola de chamas
explodiu da ponta do seu dedo que apontava para a carta. Qing Xiong não estava
disposto a queimá-la, então a puxou de volta.
“Chong Ming, os yaos estão saindo do controle no
mundo, atualmente. Os talentos da Tang estão em declínio, não há tempo
suficiente.”
Chong Ming virou a cabeça de lado para olhar diretamente
dentro dos olhos de Qing Xiong, então anunciou cada palavra com clareza, “Não
esqueça, somos yaos também.”
“Você ainda se lembra?” Qing Xiong falou, “Achei que tinha
esquecido há muito tempo, Vossa Majestade, Rei Yao.”
Chong Ming emanou um ar formidável, como se houvesse chamas
furiosas ardendo vivamente dentro de seu corpo. Suas sobrancelhas se franziram
profundamente, parecendo furiosas enquanto ele encarava Qing Xiong diretamente.
_
No escritório, Hongjun primeiro tentou abrir o pingente com
duas facas de arremesso, depois cortar com algumas tesouras, mas ainda foi
incapaz de desmontar as engrenagens metálicas externas. No final, ele bateu com
um martelo, e mesmo depois de martelar tanto ao ponto de sua testa estar
pingando de suor, ainda não conseguiu remover o pequeno cristal do pingente.
“AAAHHHHH–” Hongjun pegou uma garrafa de bronze e quis esmagar
o pingente com ela.
“Por que está lutando com isso?” O yao carpa perguntou de um
lado, “Sua Majestade Qing Xiong te avisou antes pra não quebrar.”
“Só quero remover.” Hongjun disse, “E depois colocar no cabo
da minha faca.”
“A luz dentro dele definitivamente é fora do comum.” O yao
carpa escalou a mesa e pisou em um livro, depois se deitou sobre a
barriga. A resplandecente luz do pingente se refletia nos olhos do peixe.
“Tem um círculo de encantamentos do lado de fora.” Hongjun
estudou o objeto enquanto dizia, “O que raios é isso? É pra selar o pingente?
Essa luz é tão confortável.”
“Sinto calor só de olhar pra ela.” O yao carpa falou, “E me
sinto muito melhor.”
Hongjun pegou o colar, “Vamos perguntar a Qing Xiong.”
“Seu castigo não acabou ainda!” o yao carpa o lembrou, mas
Hongjun já tinha saído animadamente com o pingente.
O sol poente, na cor vermelho sangue, passava sobre as
montanhas; o gorjeio das aves viajava em ondas dos picos da montanha banhados
pelo crepúsculo.
Quando Hongjun veio para o palácio secundário, subitamente
ouviu os sons de uma disputa furiosa ressoando dentro do salão. Ele ficou
assustado e se escondeu por trás de um pilar.
“Aquele jiao negro[2] não ganhou sua
posição por meios adequados, ele nunca será o Rei Yao! Ele não passa de um
réptil vindo de uma sarjeta, como poderia ser digno?!”
“Mas nós perdemos a guerra, essa é a verdade incontestável!”
Qing Xiong disse em voz baixa, “A menos que a gente volte lá e o destrua
completamente, quando Mara reviver e comandar os yaos, o mundo
humano vai mergulhar no abismo da miséria!”
“O que tem a ver comigo se eles caírem no abismo da miséria?!”
Chong Ming explodiu, “Os humanos desconsideram a moral ao menor sinal de lucro
e são todos um bando de ingratos! Eles tomaram Lao San[3],
depois jogaram o filho dele com alguma humana pra que eu criasse por 12 anos!
Por que tenho que criar um órfão que tem sangue humano correndo nas veias?!”
“Ele ainda é filho de Kong Xuan!” A voz de Qing Xiong soou
baixa, seu tom de reprovação era óbvio. “Quando Kong Xuan morreu, você não
sentiu nem um pouco de remorso?!”
“Que remorso eu poderia sentir?!” Chong Ming estava
praticamente rugindo, “Se não fosse por aquela pessoa ter causado a morte de
Kong Xuan, Hongjun teria que ser uma criança sem pai ou mãe agora?!”
“Há humanos ingratos que desconsideram a moral por lucro, mas
também há os que são amigos, como Di Renjie.”
“Amigos?!” Chong Ming riu debochado. “Ele não faria nada pelos
humanos! Definitivamente!”
A voz de Qing Xiong estremeceu, “Kong Xuan era um dos Demônios
Sagrados. Hongjun herdou sua Luz Sagrada Pentacromática, ele pode erradicar o
jiao negro para os yaos, se vingar pelo pai e destruir o Mara
ressuscitado. Além disso, se você o fizer ficar aqui por toda a vida, ele vai
descobrir a verdade mais cedo ou mais tarde!”
“No dia em que deixei as Planícies Centrais...” Chong Ming pronunciou
em voz baixa, “Eu disse que não iria mais me importar se os yaos
viviam ou morriam. Quanto a Mara? Espero que Mara reviva assim que possível, e
depois mate todos aqueles humanos malditos!”
“Você não pode ser um pouco mais honesto, Chong Ming!” Qing
Xiong de repente avançou um passo. Uma aura imponente irrompeu de seu corpo, e
subitamente o palácio secundário foi preenchido com um ar ameaçador. Enquanto
os dois se confrontavam, as xícaras de chá na mesa tremiam constantemente,
emitindo tinidos suaves, e os painéis da janela vibravam também.
De repente, passos puderam ser ouvidos do lado de fora. Qing
Xiong e Chong Ming suprimiram suas auras imponentes ao mesmo tempo e viraram
suas cabeças abruptamente.
Qing Xiong deu alguns passos para o seguir, mas tudo o que viu
foram as costas de Hongjun.
“Quando Kong Xuan partiu, se você tivesse dito só uma palavra
pra pedir que ele ficasse, as coisas estariam assim hoje em dia?” Qing Xiong
suspirou. “As últimas palavras que você disse a ele foram 'suma daqui', e dali
em diante, os vivos e os mortes estão pra sempre separados pelos céus.”
Após falar, Qing Xiong saiu o palácio secundário, deixando
Chong Ming sozinho para encarar o crepúsculo do lado de fora da porta e então
cair silenciosamente em um torpor.
_
À noite, o céu estava preenchido com estrelas e o estrelado
rio no pico das Montanhas Taihang se assemelhava a uma cascata.
Passos podiam ser ouvidos de longe, mas Hongjun não se moveu
um centímetro sequer, deitado em um pedaço de rocha plana no Penhasco
Sacrificial. A rocha era inclinada em direção ao precipício; se alguém fosse
descuidado, poderia escorregar para o abismo sem fundo a qualquer momento.
Qing Xiong escalou e se deitou ao lado de Hongjun. Ambos
ficaram silenciosamente perdidos em pensamentos enquanto encaravam o brilhante
e estrelado céu noturno.
“É verdade?” Hongjun perguntou subitamente.
“Se isso é verdade ou mentira, você já sabe a resposta em seu
coração.” Qing Xiong respondeu.
Hongjun não pôde evitar ofegar, mas Qing Xiong ergueu a mão e
a estendeu para fechar seus olhos. Hongjun agarrou a mão alheia e enxugou as
lágrimas nela.
“Meu pai me odeia?” Hongjun engasgou enquanto soluçava.
“O que ele fala geralmente é diferente das coisas que ele
pensa.” Qing Xiong disse em transe, “Não o culpe pelo que ele diz. Se realmente
não estivesse disposto, ninguém no mundo seria capaz de forçá-lo. Você ainda
tem o que te dei hoje?”
Hongjun retirou o colar enquanto tremia.
“Você não queria ir ao mundo humano?” Qing Xiong pegou o
pingente. A luz gentil dentro da peça iluminou metade da montanha em um
instante em sintonia com o esplendor das estrelas que enchiam o céu. Sob aquela
luz, Hongjun se acalmou gradualmente.
“Toda vez que venho, você faz um escândalo pra que eu te leve
pra lá. Você já está crescido agora,” Qing Xiong continuou, “Quero dizer, sim,
vai. Por que ter medo?”
Hongjun primeiro ficou eufórico, e imediatamente depois pensou
em Chong Ming e sua expressão ficou tristonha de novo. Ele encarou o outro em
um torpor.
Qing Xiong se virou para a brilhante luz do pingente ao
murmurar, “Há muitas coisas pra comer no mundo humano, e muitas coisas
divertidas pra fazer também. Há belas damas, amigos com quem beber, músicas que
podem viajar por dez li[4] de distância, lâmpadas que
nunca se apagam, seja dia ou noite. Apenas vá. Vá pro ilimitado mundo dos
mortais. Você não vai se arrepender.”
_
No dia seguinte, o palácio secundário tinha sido limpo.
Hongjun adentrou o salão. Os três tronos tinham sido levados
para lá — Chong Ming estava sentado no do meio enquanto Qing Xiong ocupava o da
esquerda. A expressão de Chong Ming era indiferente como sempre. Hongjun
chamou, “Pai”, então ficou todo certinho em um canto.
“Eu não sou seu pai.” No trono, a voz de Chong Ming ainda
parecia não ter sentimentos.
Hongjun estava parado, sentindo-se um pouco inquieto. Ele
respondeu, “É sim, você é meu pai.” Mesmo assim o olhar de Chong Ming se
desviou e pousou no terceiro trono vazio.
“O nome do seu pai é ‘Kong Xuan’.” Chong Ming pronunciou em
tom profundo, “Assim como eu e Qing Xiong, ele é um dos mestres do Palácio
Yaojin. Você me perguntou antes quem ocupava o último trono, e agora posso te
responder. Quem podia sentar nesse trono era o seu pai biológico. Depois
que ele morreu, Qing Xiong te trouxe pro Palácio Yaojin. Agora que você
cresceu, é hora de voltar.”
“Eu vou voltar pra onde?” Hongjun perguntou.
“Pro lugar de onde você veio.” Chong Ming disse
levemente.
“Meu lugar é aqui.” Hongjun adicionou, “Não vou a lugar
algum.”
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Notas de tradução:
[1] “saltaria do Portal do Dragão e se transformaria em
um dragão dourado”: Isso faz parte de uma fábula chinesa.
[2] Jiao (ou jiaolong): é um dragão da mitologia chinesa, geralmente
definido como “dragão escamoso”, sem chifres (de acordo com alguns estudiosos)
e que dizem ser aquático ou ribeirinho (que vive nas margens de rios). No
entanto, há uma clara distinção entre “jiaos” e “dragões” no chinês, sendo
os jiaos geralmente vistos como inferiores.
[3] Lao San: uma forma comum de se referir aos irmãos, sendo
que o “San” aqui significa “terceiro”.
[4] Li: Medida de comprimento equivalente a 500 metros.
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Que perfeito! Quero maixxx!!
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