Olá, pessoal~ o/
Chegando o primeiro capítulo da novel TianBao FuYao Lu pra vocês, mas antes de partir pra leitura em si, preciso esclarecer sobre o cronograma de postagem, que não está estabelecido. Eu retraduzo a partir da versão em inglês feita pela equipe da Chrysanthemun Garden, cuja frequência de postagem é esporádica, então a nossa também será (por favor, estejam cientes disso desde já e não fiquem cobrando atualização, pois isso mais desmotiva do que qualquer outra coisa, e a intenção do projeto é que possa ser um processo divertido, e não estressante).
Dito isto, apreciem sem moderação~
Tradução: Miss Sw
Revisão: Mahoutsukai
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Capítulo 001:
Três Sábios de Yaojin
Se alguém quisesse cruzar o Rio Amarelo[1],
congelaria totalmente; se alguém quisesse subir as montanhas Taihang, a
passagem teria sido selada há tempos pela vasta extensão de neve.
O céu azul se estendia até onde se podia ver. O cume das
montanhas Taihang ficava coberto de neve durante o ano inteiro, mesclando-se
com as nuvens flutuantes à deriva no horizonte. Esse lugar ficava além do
alcance dos pássaros comuns; apenas alguns falcões brancos planavam,
enfrentando ventanias sarcasticamente gélidas enquanto se tornavam manchinhas
negras que pontilhavam o céu azul escuro.
Uma ave gigante apertou em suas garras um pacote embrulhado em
tecido. Ela voou por entre as nuvens, esticando bem as asas no processo. No
crepúsculo, raios de luz dourada se refletiram em suas penas quando mergulhou,
voando em direção à nuvem que envolvia o topo das montanhas. Após atravessar as
nuvens, palácios deslumbrantes surgiram no meio das montanhas Taihang, rodeados
por inúmeros picos. Os muros externos dos palácios pareciam ter sido pintados
com uma camada de chamas vermelhas do pôr do sol.
A neve nunca se acumulava dentro dos palácios ao longo do ano,
e os campos eram cheios de verdejantes árvores de guarda-sol[2]. Sob
a esplêndida luz do sol, parecia ser o meio do verão. Uma brisa noturna soprou;
as folhas das árvores de guarda-sol que cobriam as montanhas farfalharam,
lançando sombras com a luz remanescente do crepúsculo como se abrissem as
cortinas para um sonho muito longo, porém bonito.
A ave gigante pousou na plataforma externa do palácio
principal. Acompanhada de um prolongado grasnido que ecoou através das
montanhas, ela sacudiu sua plumagem reluzente com um whoosh que
pareceu cobrir a Terra e depois recolheu as asas de volta ao corpo. Quando as
plumas que enchiam o céu desapareceram completamente, um jovem alto apareceu em
seu lugar.
O homem tinha cerca de nove chi[3] de
altura; seus traços faciais eram distintos e um tom profundo de dourado
brilhava dentro de seus olhos escuros como breu. Em seu torso nu, músculos bem definidos envolviam seu abdômen enquanto sua pele era
tingida de bronze da cabeça aos pés. Ele usava uma saia monarca negra[4]
bordada com padrões dourados que se agitava livremente com o vento. Ele
segurava um pacote nas mãos enquanto andava lentamente até o palácio principal.
O local estava cheio de rapazes e moças que transitavam.
Quando viram o homem, todos se ajoelharam imediatamente.
“Rei Qing Xiong.”
A saia do homem chamado “Qing Xiong” ondulou às suas costas
quando ele passou pelo pátio cheio de árvores de guarda-sol, aprofundando-se no
palácio principal. A noite caía silenciosamente. As lanternas ainda não estavam
acesas ali. Em meio à luz natural que entrava, havia três tronos elevados no palácio:
dois estavam vazios, e um homem ruivo usando uma vestimenta de um vermelho
igualmente vivo estava sentado no do meio.
Seu cabelo carmesim era tal e qual uma chama abrasadora. Seu
robe real parecia ter um tom dourado avermelhado deslumbrante mesmo dentro do
cômodo escuro, como se o glorioso céu da manhã estivesse fluindo pelo material
luxuoso. Uma longa pluma flamejante que se estendia de seu cinto pousava
pesadamente no chão. A parte superior de sua roupa real pendia de modo folgado
de seus ombros, expondo sua pele clara e seus músculos poderosos.
Quando escutou o som de passos, ele ergueu o olhar, e seus
olhos se encontraram com os de Qing Xiong.
Ele era o rei deste palácio, e o regente da região nevada e do
firmamento. Muito poucas pessoas no mundo conheciam o venerável nome “Chong
Ming” agora; quase duzentos anos tinham se passado, as dinastias da Terra
Divina[5] tinham mudado, e sua antiga fama tinha desaparecido sem
deixar traços da história de muito tempo atrás.
Ele tinha um rosto bonito, sobrancelhas em formato de lâmina[6]
e irradiava naturalmente um ar distinto e imponente. Uma cicatriz de queimadura
podia ser vista em seu pescoço, a pele inchada estendendo-se até embaixo de uma
de suas orelhas.
Após um silêncio prolongado, Qing Xiong finalmente falou.
“Quando Kong Xuan morreu, ele deixou um filho órfão.”
“Como ele morreu?” Chong Ming perguntou friamente.
Qing Xiong balançou a cabeça muito devagar, e o palácio caiu
em um silêncio mortal.
“Não vou criar a prole dele com alguma humana,” Chong Ming
disse indiferentemente. “Vá ao Penhasco Sacrificial nos fundos das montanhas e
ache um lugar pra jogar fora.”
Qing Xiong se abaixou apoiado em um dos joelhos e colocou no
chão o embrulho que segurava. Quando o pacote pousou, gradualmente ficou maior
e se abriu. Os quatro cantos bordados com padrões de lótus emitiram um brilho
fraco, e quando o tecido estava totalmente aberto, um garoto apareceu.
Ele estava deitado de lado e encolhido. O menino tinha belas
feições, mas vestia um robe de saco esfarrapado em seu corpo pequenino, seu
peito subindo e descendo a cada respiração. Ele segurava algo nas mãos, e sua
postura encolhida parecia uma tentativa de proteger o item importante em seus
braços.
“Em termos de idade humana, ele tem quatro anos agora,” Qing
Xiong continuou.
Chong Ming observou silenciosamente a criança.
Qing Xiong ergueu o garoto. Enquanto ele o segurava nos
braços, o menino se contorceu em desconforto.
“Ele é a cara do pai quando era pequeno,” Qing Xiong disse.
Com a criança no colo, ele subiu os degraus e parou na frente
de Chong Ming. Ele sussurrou, “Veja — os olhos, as sobrancelhas.”
Chong Ming não mudou sua resposta. “Já disse, mate.”
Qing Xiong entregou a criança para Chong Ming, que não
aceitou, então ele empurrou o menino contra o peito alheio. O garoto se moveu
de novo, como se estivesse acordando de um sono profundo. Ele sentiu o peito
exposto, porém quente, e inadvertidamente agarrou o robe real. Ao mesmo tempo,
o objeto em sua mão escorregou — era uma pena de pavão verde.
“Dê um nome a ele. Estou partindo.” Qing Xiong se afastou do
trono.
“Pra onde está indo?” Chong Ming indagou com frieza. “Você vai
deixá-lo comigo, mas vou matá-lo assim que pensar naquela mulher.”
“Você é quem sabe.” Qing Xiong se virou para Chong Ming
enquanto retrocedia alguns passos. “A época de Di Renjie acabou. O mundo humano
está gradualmente se tornando uma terra de yaos[7]. O
momento do renascimento de Mara[8] está próximo, eu preciso
descobrir a verdade sobre a morte de Kong Xuan. Estou indo agora.”
Após dizer aquilo, Qing Xiong saltou, desdobrou suas asas e se
transformou na gigante ave negra. Com um movimento de suas asas, soltou um
prolongado grasnido ao sair do palácio e voar para o céu noturno.
Quando a criança ouviu o grasnido de Qing Xiong, acordou
subitamente.
A pena de pavão feita de pedra de jaspe escapuliu do robe real
de Chong Ming e caiu, causando tinidos ao quicar no chão e rolar pelos degraus.
Os olhos do menino se voltaram para suas mãos. Ele percebeu
que estava agarrando o robe de Chong Ming, e quando ergueu o olhar, viu que o
outro o encarava.
Uma lágrima caiu no rosto do garoto. Com uma expressão
confusa, ele alcançou o rosto de Chong Ming e o afagou, ajudando-o a secar as
lágrimas.
“Quem é você?” a criança perguntou timidamente.
_
Hebei, plataforma Youzhou.
Folhas escarlates de bordo rodopiavam no céu. Um homem e uma mulher
pararam em frente a um prédio; ele estava vestido com uma túnica azul enquanto
ela tinha uma aparência bonita e atraente. Os dois se recostaram contra o parapeito
com vista para as grandiosas montanhas e rios.
“O Céu e a Terra, que
imensidão e infinitude! Estou tão sozinho, que lágrimas continuam rolando em
meu rosto,” O homem proferiu casualmente. “Bo Yu realmente é um gênio não
ortodoxo.”
“Por que está com o humor refinado assim tão de repente?” A
mulher parou ao lado dele e disse vagarosamente, “Após a morte de Di Renjie,
aos poucos, o mundo humano tem virado uma terra de yaos.”
“Não há necessidade de ficar tão ansiosa,” o homem de túnica
azul murmurou. “Ainda não sabemos se aquele velhote tem algum plano
alternativo. Como estão os preparativos pra receber Mara?”
A bela mulher replicou, “O hospedeiro dessa vez está
perfeitamente disposto, então a fusão tem sido muito tranquila, mas ainda
precisamos observar por algum tempo. Falando nisso, você não tem medo de arranjar
problemas depois de ter matado Kong Xuan? E se aquele homem nas montanhas
Taihang fizer um retorno…”
“Se ele quisesse vir, teria feito isso há muito tempo.” O
homem riu. “A sorte estava na margem leste trinta anos atrás, mas ela se voltou
para o Oeste após esse tempo ter passado[9]; o apogeu do Palácio
Yaojin já passou. Chong Ming está preso pelo veneno da chama, do contrário, ele
não teria precisado se aposentar dois séculos atrás. Agora, Chang’an pertence a
você e a mim.”
A música de um Sizhu[10] viajou, vinda de
longe. Ele se aproximou da bela mulher, ajeitando o cabelo nas têmporas dela e
estudando sua expressão. Ele sussurrou, “Vamos, Sua Majestade ainda está
esperando.”
_
Doze anos depois, no Palácio Yaojin no topo das montanhas
Taihang, o sol brilhava vivamente no meio do verão e um grupo de sombras de
árvores de guarda-sol se movia como meteoros.
Um rapaz estava vestido com uma túnica curta e sem mangas de
tom vermelho escuro. Um robe bordado com padrões verdes estava amarrado em seu
quadril, tal como uma bela peça de jade. Ele estava sentado no galho de uma das
árvores enquanto misturava uma tigela de pólen branco em suas mãos. De tempos
em tempos, seus olhos animados espiavam dentro do palácio principal através das
janelas abertas.
Lá dentro, as cortinas de gaze balançavam ao vento. Chong Ming
estava recostado no sofá real enquanto observava as montanhas banhadas pela luz
do sol.
“Hongjun!”
“Shh…” O rapaz ergueu seu dedo ao olhar para baixo.
Quem o chamou, na verdade, foi um yao
carpa que tinha braços e pernas. A aparência do yao era
muito estranha; seu corpo era o torso de uma carpa de cerca de dois chi de
comprimento do qual saíam duas pernas humanas cobertas de pelos de modo que ele
podia ficar de pé. Dois braços, que emergiam de suas barbatanas, estavam agora
abraçando a árvore de guarda-sol enquanto ele clamava.
“Desça, rápido.” A boca do yao peixe estava abrindo e fechando
enquanto ele cuspia algumas bolhas. Sua cauda balançava enquanto ele insistia,
“Você não sabe voar, se você cair e se machucar, Sua Majestade vai bater nas
pessoas!”
Após misturar o pólen, Hongjun sussurrou para o outro, “Meu
pai esteve sentado lá dentro o dia inteiro sem querer ver ninguém. Ele vai se
irritar se alguém entrar lá.”
“Ele está esperando por alguém,” o yao carpa replicou.
“Sua Majestade não está de bom humor hoje.”
Hongjun terminou de misturar o pólen em suas mãos e perguntou,
“Quem ele está esperando?”
O yao carpa hesitou. Hongjun saltou da árvore e
rapidamente se aproximou do palácio principal. Ao longo do caminho, sempre que
o rapaz passava pelo Palácio Yaojin, todos se curvavam e o chamavam de “Vossa
Alteza”. Hongjun assentia em resposta. Após chegar nos fundos do palácio
principal, Hongjun jogou um gancho, voou e pousou sobre o telhado.
Ele se agachou, movendo-se silenciosamente pelo palácio até o
teto acima de Chong Ming. Sem fazer barulho, ele ergueu as telhas vítreas e,
com a tigela de remédio em mãos, soprou gentilmente.
O pó medicinal voou do recipiente como se tivesse vida e
cintilou com um brilho branco enquanto flutuava dentro do cômodo. O yao carpa
se virou de lado e observou à distância o lado de fora do palácio principal.
Chong Ming encarava as imponentes montanhas Taihang enquanto
divagava no sofá. A marca escarlate em seu pescoço brilhou. O pólen voou até
lá, rodeando Chong Ming enquanto parecia formar uma galáxia de partículas de
luzes que gradualmente grudaram na marca carmesim, formando uma camada de gelo
sobre ela.
A boca do yao carpa se abriu um pouco mais.
Junto com a respiração regular de Chong Ming, um pouquinho do pólen
foi subitamente inspirado. Ele abriu os olhos de repente e sua expressão ficou
muito estranha.
Eu consegui! Hongjun pensou consigo mesmo. Ele
saltou de cima do palácio principal e, com o yao carpa, observou Chong Ming,
que se levantou apressado e olhou ao seu redor. As feições de seu rosto se
contorceram enquanto ele olhava para fora do palácio.
“Pai…” Hongjun estava radiante, e justamente quando ele estava
prestes a falar, Chong Ming se virou abruptamente.
“AH… TCHIM!” Junto com o catastrófico espirro dele, uma bola
de fogo do tamanho de uma carruagem instantaneamente irrompeu dentro do palácio
principal e voou em direção às montanhas do lado de fora com imensa força
destrutiva. Aquilo bateu na lateral do monte com um enorme estrondo.
As montanhas balançaram; dentro do Palácio Yaojin, os criados
imediatamente gritaram em pânico.
“É um terremoto!”
“AH… TCHIM!”
Outra bola de fogo foi disparada e destruiu um dos pilares de
jade do palácio principal. Hongjun soltou um grito alto, depois agarrou o yao
carpa e correu para o pátio a fim de se esconder no lago.
“Atchim! Atchim! Atchim!”
Chong Ming espirrou três vezes seguidas. Bolas de fogo
irromperam e deixaram as árvores de guarda-sol do pátio em chamas, e dentro de
um instante, todo o Palácio Yaojin foi transformado em um mar de fogo.
“É um incêndio! Apaguem!”
Uma bola de fogo caiu no lago. O yao carpa logo chorou em
aflição, “Ai! Está muito quente!” Antes que alguém pudesse registrar qualquer
coisa, Hongjun o pegou e saiu do lago. Ele correu pelos arredores sob as ruínas
das árvores de guarda-sol que tinham pegado fogo, e então jogou o yao por cima
do muro antes de se virar e correr até Chong Ming.
“Pai!” Hongjun se apressou dentro do palácio principal. Já
havia chamas abrasadoras ardendo dentro do quarto. Chong Ming cobriu a boca e o
nariz, e olhou para Hongjun, que rapidamente falou, “Pai! Eu queria te ajudar…”
Chong Ming se virou de imediato e inesperadamente sugou uma
lufada de ar. Ele não conseguiria segurar por mais tempo — chamas que poderiam
desfazer o céu explodiram com um disparo que transformou o palácio principal
inteiro em um oceano escaldante. Chamas fumegantes cercaram Hongjun por todos
os lados, porém Chong Ming se precipitou em sua direção e bruscamente puxou o
rapaz para seu peito a fim de o proteger.
Um grasnido de fênix atravessou o céu. Antes que alguém
pudesse reagir, asas multicoloridas se desdobraram das costas de Chong Ming
para proteger Hongjun e ele próprio do fogo. Elas emitiam uma cromada luz
amarela; sob a proteção da fênix, ninguém perderia sequer um fio de cabelo de
seu corpo, mesmo que fosse submerso em lava. As vestes de ambos foram queimadas
até que não sobrasse nem um único fio, revelando seus corpos desnudos.
Hongjun se virou para olhar seus arredores; o edifício
principal do Palácio Yaojin já havia sido incendiado pelo Fogo Sagrado de
Samadhi.
Pássaros vieram voando de todas as direções, trazendo com eles
a neve acumulada dentro das montanhas Taihang. Eles se apressavam da base ao
topo tal como uma cachoeira invertida e assobiavam pelo ar enquanto abasteciam
o interior do Palácio Yaojin. A nevasca abafou as chamas em um instante antes
de derreter.
Duas horas depois, manchas negras ainda podiam ser vistas no
rosto de Hongjun enquanto ele parava do lado de fora do escritório.
“Ai! Ai!”
A régua bateu em sua palma e Hongjun gritou de dor.
“Quantas vezes já foram, com essa?!” Chong Ming tinha vestido
roupas comuns e segurava uma régua em sua mão. Ele pronunciou friamente, “Me
diga!”
Hongjun hesitou. Chong Ming lhe bateu com a régua novamente, e
ele gritou de novo.
“Você quer morrer queimado?” Chong Ming repreendeu raivosamente.
“Fique de pé no pátio da frente até anoitecer, ou então não terá permissão pra
comer!”
Chong Ming golpeou pela terceira vez, e foi particularmente
forte, o que até fez Hongjun soltar lágrimas.
“Suma daqui e vá encarar a parede!” Chong Ming gritou
furiosamente.
Então Hongjun pôde apenas abaixar a cabeça ao atravessar o
pátio para encarar o muro. A carpa coçou as escamas em seu corpo e foi atrás
dele, agachou-se ao lado de Hongjun, depois virou a cabeça de lado para apanhar
um pouco da neve derretida ali para beber.
Chong Ming estava totalmente enfurecido. Ele teve que sofrer
tal calamidade inesperada mesmo que estivesse apenas deitado em casa. Quando
saiu do pátio, ele assobiou e pássaros vieram voando de todas as direções,
levando embora com seus bicos galhos e entulhos queimados.
“Eu te falei pra não causar confusão,” o yao carpa disse ao
lado do rapaz. “Quantas vezes já foram? Pra começar, seu pai já estava de mau
humor hoje de manhã também.”
“Como eu poderia saber que ele iria espirrar?” Hongjun
protestou. “Eu pesquisei minuciosamente por três anos só pra encontrar esse pó
de lótus da neve[11]!”
“Todos já disseram,” o yao carpa respondeu. “O veneno de chama
de seu pai não pode ser curado, pare de se atormentar.”
Hongjun parou de falar. Ele ficou de pé diante do muro como
punição e, após parar por algum tempo, moveu o peso para a outra perna, depois
mudou de novo e ficou um pouco entediado. Então ele começou a analisar as
marcas cinzas de queimadura na parede do pátio. Parecia com a pintura de uma
paisagem, então Hongjun estendeu a mão e limpou um pouco para distinguir o
contorno da montanha. Ele ficou muito satisfeito e pensou que se assemelhava
bastante a uma pintura com respingo de tinta.
“Seu pai vai brigar com você de novo se sua mão estiver suja!”
O yao carpa lembrou.
Hongjun replicou rapidamente, “Vou lavar minhas mãos antes de
comer.”
À tarde, ainda havia fumaça negra ondulando ao redor do
palácio principal. As brasas ainda estavam quentes; a neve tinha derretido em
todos os lugares e o chão estava uma bagunça. Quando Chong Ming viu esse
cenário, realmente sentiu vontade de chorar, mas não tinha lágrimas.
Um grasnido veio de longe. Uma ave negra gigante coberta de
luz dourada voava em direção ao topo das montanhas Taihang. Quando pousou,
transformou-se em Qing Xiong, que ficou espantado ao atravessar o pátio.
“Por que esse lugar está nesse estado?” Ele perguntou,
chocado. Ele chamou um jovem criado e questionou, “Algum inimigo
apareceu?”
O servo não ousou responder e apenas disse que Sua Majestade
Chong Ming estava esperando em um palácio secundário, então Qing Xiong se virou
e entrou no pátio ao lado.
“Qing Xiong!” Uma saudação alegre soou.
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Notas de tradução:
[1] Rio Amarelo: Também conhecido como “Huang He” ou “Huang Ho”, é o segundo mais longo
rio da China e o 6.º maior do mundo. Foi ao longo desse rio que a civilização
chinesa começou. Seu nome deve-se à grande quantidade de materiais em suspensão
que arrastam suas turbulentas águas — lodo e partículas de areia muito finas,
que o tingem de dourado.
[2] Árvore de guarda-sol: Não encontrei uma referência confiável de nome em português dessa
árvore ornamental cientificamente chamada de Firmiana simplex, que em
inglês é conhecida como Chinese Parasol tree ou wutong.
[3] Chi (尺): Unidade de medida de
comprimento chinesa equivalente a 0,33m.
[4] Saia monarca negra: Eu não encontrei uma referência exata do tal modelo de saia, mas na
imagem oficial que se tem do personagem até o momento (retirada do manhua), seu
estilo é assim:
[5] Terra Divina (Shenzhou): É um nome antigo da China.
[6] Sobrancelhas em formato de lâmina/espada: São sobrancelhas longas, levemente grossas e largas e com a curvatura
de uma espada. Na análise facial da cultura chinesa, diz-se que indivíduos com
sobrancelhas assim são justos e exigem muito respeito de outras pessoas. Eles
também são moralmente retos com as virtudes da valentia e da coragem. (Saiba
mais aqui).
[7] Yao: Categoria que
pode incluir monstros, espíritos, demônios ou outros seres sobrenaturais. É um
correspondente ao "youkai" japonês.
[8] Mara: Título de um Demônio
Divino da profecia que seria despertado em breve.
[9] "A sorte estava na margem leste
trinta anos atrás, mas ela se voltou para o Oeste após esse tempo ter
passado": Provérbio que significa que o mundo está
mudando tão rápido que está sempre além das nossas expectativas, então não
podemos prever com exatidão como seria o futuro.
[10] Sizhu: Traduzido
literalmente como "seda e bambu", é um estilo de música instrumental
tradicional chinesa que utiliza instrumentos de corda (Erhu, pipa, sanxian,
etc) e sopro (xiao, dizi, sheng, etc).
[11] Lótus da neve (Herba Saussureae
Involucratae): Flor considerada sagrada e uma erva apreciada
na medicina tradicional chinesa. Cresce nos precipícios escarpados, entre 3-4
mil metros acima do nível do mar e há muito tempo é tratada pelos chineses como
uma "flor mágica que pode ressuscitar os mortos".
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Lista de capítulos | Próximo
Oi, não irei perguntar sobre atualizações e sim se você irá disponibilizar no wattpad. Obrigada.
ResponderExcluirNão pretendo postar lá, ao menos por enquanto. Acontece que lá o público é bem maior, o que gera mais expectativa e, consequentemente, mais cobranças, e como esse projeto tem frequência de postagem esporádica (ainda mais por conta de a tradução ao inglês também ter esse ritmo), prefiro ir deixando aqui, mesmo que tenha um menor alcance, entende?
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